Relator solicita a cassação do mandato de Camilo Cristófaro, vereador em São Paulo, pela acusação de racismo.

Na próxima quinta-feira (24), o vereador Camilo Cristófaro (Avante) enfrentará julgamento pela Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo. A acusação que pesa sobre ele é a de racismo, e caso seja considerado culpado, o político perderá o mandato. O relatório elaborado por Marlon Luz (MDB) foi protocolado na última segunda-feira (21) e será votado por sete legisladores.

O relatório, ao qual a Folha teve acesso, pede a cassação de Cristófaro. A expectativa é que a maioria dos membros da Corregedoria siga o voto do relator. A situação delicada do vereador teve início em maio de 2022, quando foi flagrado em uma sessão na Câmara Municipal proferindo a frase: “não lavaram a calçada, é coisa de preto”.

A composição da Corregedoria conta com os vereadores Rubinho Nunes (União Brasil), Alessandro Guedes (PT), Aurélio Nomura (PSDB), Danilo do Posto de Saúde (Podemos), Silvia da Bancada Feminista (PSOL), Sansão Pereira e o próprio Marlon. Rubinho, na condição de presidente, só votará em caso de empate.

Caso a maioria dos membros seja favorável à cassação, a decisão será levada ao plenário da Câmara e Cristófaro precisará conquistar pelo menos 36 votos dos 55 vereadores para se manter em seu cargo.

O processo disciplinar se arrasta há um ano e três meses e foi aberto após denúncias de políticos e entidades à Corregedoria. A situação também foi objeto de pedido de instauração de inquérito policial por vereadores do PSOL.

A Polícia Civil conduziu as investigações do caso e indiciou Cristófaro após análise do vídeo da sessão da CPI e oitiva do vereador. No entanto, em julho deste ano, a Justiça absolveu o político da acusação de racismo. Na decisão, o juiz Fábio Aguiar Munhoz menciona que a fala do vereador foi retirada de um contexto de brincadeira, sem possuir tom segregacionista ou discriminatório. O Ministério Público estadual recorreu da decisão.

Em declaração à Folha, Cristófaro comemorou a decisão de absolvição, mencionando que “venceu a justiça e a verdade”. No mesmo dia em que proferiu a frase polêmica, o vereador pediu desculpas e admitiu tê-la dito, mas argumentou que se referia à dificuldade de polir veículos na cor preta e que a declaração era direcionada a um amigo chamado Anderson Chuchu.

Antes do relatório de Marlon, havia expectativas de que um resultado favorável na Justiça pudesse influenciar a decisão da Câmara em relação à cassação do vereador.

Além do caso atual, Cristófaro já foi alvo de acusações de injúria racial em outros momentos de seu mandato, como quando chamou o vereador Fernando Holiday (Novo) de “macaco de auditório” e quando puxou os olhos em referência ao vereador George Hato (MDB), descendente de japoneses. Um caso adicional de injúria racial movido por Dilza Maria Pereira da Silva, auxiliar de enfermagem, está em tramitação na Justiça.

A cassação de vereadores pelo Legislativo paulista é rara, tendo ocorrido pela última vez em 1999, com Vicente Viscome e Maeli Vergniano. Viscome foi acusado de ser um dos líderes da chamada Máfia dos Fiscais, durante a gestão de Celso Pitta (1993-1996), e morreu em 2021. Já Maeli perdeu o mandato por utilizar indevidamente um carro cedido por uma empreiteira responsável pela coleta de lixo na cidade de São Paulo.

Cristófaro enfrentará um desafio significativo para provar sua inocência na quinta-feira, quando os membros da Corregedoria votarem o relatório de Marlon. Seja qual for o resultado, certamente terá grandes repercussões tanto para a carreira política do vereador quanto para a questão do racismo no cenário político paulista. O desfecho dessa história será aguardado com grande expectativa.

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