Repórter São Paulo – SP – Brasil

Estudo feito em São Paulo revela que o uso de glitter está prejudicando o crescimento de organismos marinhos essenciais para os oceanos.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) realizaram um estudo que revela o impacto negativo das partículas de glitter, também conhecidas como purpurina, nos ecossistemas aquáticos. Publicado na revista Aquatic Toxicology, o estudo concluiu que o glitter pode comprometer o crescimento de organismos que são a base desses ecossistemas, como as cianobactérias.

O glitter é um microplástico com tamanho reduzido, impossibilitando sua filtragem pelos sistemas de tratamento de esgoto. Assim, quando o glitter é lavado pelos foliões durante o carnaval, ele vai diretamente para as praias, florestas, lagos e oceanos, causando contaminação nos corpos d’água. Estima-se que mais de 8 milhões de toneladas de glitter tenham sido lançados nos oceanos nos últimos anos.

Esse material não se degrada e entra em contato com os organismos aquáticos, afetando todo o ecossistema. A exposição ao glitter pode ocorrer de diversas formas, como ingestão, contato com substâncias tóxicas ou ferimentos causados pelas bordas afiadas das partículas. Além disso, suas propriedades físico-químicas dificultam a medição precisa dos níveis de contaminação da água.

O estudo foi realizado pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Os pesquisadores avaliaram os efeitos de cinco concentrações de glitter em duas linhagens de cianobactérias, que são responsáveis por formações de florações em corpos d’água. Durante 21 dias, a taxa de crescimento celular das cianobactérias foi medida a cada três dias.

Os resultados indicaram que concentrações de glitter semelhantes às maiores dosagens testadas podem influenciar negativamente os organismos dos ecossistemas aquáticos. Observou-se que as doses crescentes de glitter aumentam o biovolume das células de cianobactérias, levando a processos de estresse que comprometem até mesmo a fotossíntese. Isso ressalta a toxicidade pouco explorada do glitter em microrganismos e revela que o efeito no crescimento desses organismos é influenciado pela concentração de glitter na água.

Os pesquisadores defendem a importância de repensar as comemorações do carnaval e estimular um consumo mais consciente de produtos à base de plástico. O glitter foi criado para ser usado em festividades, mas é preciso ter consciência dos impactos ambientais que ele causa. Os pesquisadores agora planejam realizar testes em mais linhagens de cianobactérias e analisar o glitter dito biodegradável para verificar se ele também pode gerar problemas para os organismos.

Esse estudo contribui para o debate sobre a sustentabilidade do carnaval e para a conscientização sobre o impacto dos microplásticos nos ecossistemas aquáticos. É necessário encontrar alternativas mais sustentáveis para a purpurina e reduzir seu uso, a fim de preservar os ecossistemas marinhos e de água doce, tão importantes para a vida.

Sair da versão mobile