Mãe Bernadete, líder quilombola morta na Bahia, teve sua vida ceifada. O caso chocou a comunidade e levanta questões sobre segurança.




Bernadete Pacífico, lider do quilombo Pitanga dos Palmares, é assassinada em Simões Filho (BA)

Bernadete Pacífico, líder do quilombo Pitanga dos Palmares, é assassinada em Simões Filho (BA)

Bernadete Pacífico, líder do quilombo Pitanga dos Palmares, foi morta na noite desta quinta-feira (17) em Simões Filho (BA). Bernadete era responsável por denunciar a violência cometida contra a população quilombola e a tentativa de tomada das terras.

O assassinato de seu filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho, em 2017, intensificou a luta de Bernadete contra os ataques a terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana.

Aos 23 anos, Bernadete iniciou-se no terreiro Ilê Axé Kalé Bokum, em Salvador, por meio do babalorixá Severiano Santana Porto. De acordo com seu neto Wellington Adriel, Bernadete era conhecida como uma líder forte, sempre disposta a proteger e cuidar de todos. Ela era uma grande inimiga da fome e ajudou muitas pessoas em sua comunidade.

Bernadete não era apenas uma líder política, representando os interesses do quilombo, mas também se preocupava com o bem-estar e cuidado direto da comunidade. Ela estava sempre presente, oferecendo orientação, marcação de exames médicos, distribuição de cestas básicas e participando de manifestações culturais.

Bernadete tinha 72 anos e era coordenadora nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos). Ela também já ocupou o cargo de secretária de Política de Promoção da Igualdade Racial do município entre os anos de 2009 e 2016.

A violência contra as comunidades e lideranças quilombolas foi uma pauta levantada por Bernadete durante um encontro com a ministra Rosa Weber em julho deste ano. Durante a reunião, os grupos reivindicaram maior atenção às demandas dos quilombos, especialmente em relação à titulação das terras.

O Ministério da Igualdade Racial informou que está em contato com o Governo do Estado da Bahia, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Secretaria de Segurança Pública e com a Defensoria Pública do Estado para investigar melhor o caso.

A morte de Bernadete é um grande golpe para a comunidade quilombola. Ela deixa uma lacuna enorme, mas é importante que sejam tomadas medidas efetivas e rápidas para garantir que a impunidade não prevaleça no caso de violência e agressão contra qualquer membro da população, seja um quilombola, uma mulher negra ou um adepto do candomblé.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu o quilombo Pitanga dos Palmares em 2017, mas até hoje o território não foi titulado. Com 289 famílias assentadas em 854,2 hectares, a comunidade é alvo constante da especulação imobiliária.

Simões Filho faz parte da Região Metropolitana de Salvador e possui uma população de 114.441 pessoas. Desse total, 3.574 são quilombolas. A comunidade de Pitanga dos Palmares enfrenta não apenas a falta de titulação das terras, mas também diversos impactos de grandes empreendimentos, como obras de infraestrutura e a precarização das condições de vida.


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