Estudantes perplexos diante da apatia pela realidade cruel que prevalecia no DOI-Codi.

No último dia 14, encerrou-se o período de ações educativas promovidas pelo projeto de arqueologia no antigo DOI-Codi, em São Paulo. Durante treze dias, estudantes e pesquisadores tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre os horrores da ditadura militar que mancharam o país. A programação contou com visitas guiadas e oficinas, possibilitando a aproximação do público com a história do local.

O DOI-Codi foi responsável por torturas e execuções de pessoas que se opunham ao regime instalado após o golpe de 1964. Durante as escavações, a equipe de pesquisadores encontrou uma inscrição deixada por um preso político, com a contagem de seus dias no cárcere. Além disso, foram identificados vestígios de uma substância semelhante a sangue e peças indígenas pré-colombianas.

Os objetos encontrados, como frascos de vidro e um carimbo usado em fichas de presos, ficarão sob a guarda da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) até a criação de um memorial, que terá também uma versão online. Segundo a coordenadora do Grupo de Trabalho Memorial DOI-Codi, Deborah Neves, para que o memorial se torne realidade, é necessário o aval do governo de São Paulo, o que deve acontecer em breve.

Durante as visitas guiadas, uma vizinha do centro clandestino revelou que os gritos dos presos chegavam até ela. Além disso, outros moradores da região também se surpreenderam ao descobrir a existência do DOI-Codi. A coordenadora Cláudia Plens, da área de Arqueologia Forense, destacou que muitas pessoas procuraram a equipe para dar seus relatos e contribuir com a pesquisa.

No total, mais de 800 visitantes, incluindo alunos de escolas de educação básica e moradores da região de Vila Mariana, participaram das atividades. A pesquisadora Aline Vieira de Carvalho, da Unicamp, ressaltou a importância do interesse da sociedade pelo tema, apesar das dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores para obter financiamento. O projeto visa abrir espaços para o conhecimento arqueológico e promover o diálogo sobre a repressão do Estado.

Andrés Zarankin, responsável pela área de arqueologia, destacou que abordar temas como a violação dos direitos humanos nem sempre é bem recebido. No Brasil, segundo ele, há uma recusa em discutir abertamente essas questões devido à persistência de uma cultura autoritária e de poder. Ele lembrou que torturadores, como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, do Exército, são reverenciados no país.

Para acompanhar o andamento do projeto, é possível visitar o perfil do Instagram. Com um orçamento limitado, a equipe conta com a ajuda voluntária para coletar depoimentos de ex-presos políticos e parentes das vítimas que passaram pelos porões do DOI-Codi. O trabalho realizado pelo projeto é essencial para que a história das vítimas e sobreviventes da ditadura não seja esquecida e para que o país possa se confrontar com seu passado sombrio.

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