Dentre os participantes, 21,1% afirmaram já ter se sentido discriminados em relação aos cuidados paternos, sendo que 26,1% disseram que isso ocorre na maioria das vezes e 18,3% relataram que acontece apenas às vezes. Por outro lado, 34,4% dos pais negros afirmaram não vivenciar esse tipo de discriminação.
Segundo os autores da pesquisa, é importante destacar que as noções sobre masculinidade e responsabilidade parental estiveram sempre baseadas em perspectivas brancas. Os pesquisadores ressaltam que a possibilidade de exercer a paternidade só foi concedida ao homem negro após a abolição da escravatura, em 1888, o que significa que essa experiência tem menos de dois séculos no Brasil.
A cultura do afeto e do cuidado coletivo, presente na história do povo negro, pode apoiar os pais negros no exercício da paternidade. No entanto, é fundamental ressaltar que o movimento coletivo não retira a responsabilidade individual dos pais. Com os recorrentes ataques à população negra e os vestígios da escravidão que ainda ecoam na sociedade, muitos pais sentem a necessidade de conversar com seus filhos sobre a vulnerabilidade que os atinge e sobre as formas de resistência.
Os resultados do estudo mostram que oito em cada dez entrevistados acreditam que pais negros e brancos educam de maneira diferente. Além disso, cerca de 67,3% dos pais negros dialogam com seus filhos sobre os impactos do racismo na sociedade, sendo que 36,7% mantêm esse tema em pauta com frequência. A grande maioria dos participantes (90%) acredita que existe uma exigência maior para apresentarem repertório na educação de seus filhos, por serem pais de crianças negras.
Para os pesquisadores, a paternidade para os homens negros é um desafio que ultrapassa questões estruturais enraizadas historicamente. Eles argumentam que a vivência da juventude é negada ao homem negro, que lida ao longo de sua vida com as marcas do colonialismo, do racismo, da divisão sexual do trabalho e da desigualdade social.
Romper com o machismo e o racismo é uma luta constante para os homens negros que desejam exercer a paternidade. O estudo aponta que a associação dessas duas formas de opressão acaba se tornando uma barreira quase insuperável para o homem negro na sua jornada como pai.
Fonte: Instituto Promundo.