Estudo revela desafios enfrentados pelos pais negros na criação dos filhos.

Estudo do Instituto Promundo revela que seis em cada dez pais negros já sofreram discriminação quanto aos cuidados que têm com os filhos. De acordo com a pesquisa, realizada pela primeira vez no país, 65% dos pais negros entrevistados relataram ter vivenciado situações de discriminação relacionadas à paternidade. O levantamento contou com a participação de 270 pessoas, que responderam a um formulário divulgado nas mídias sociais, como WhatsApp, Instagram e Facebook.

Dentre os participantes, 21,1% afirmaram já ter se sentido discriminados em relação aos cuidados paternos, sendo que 26,1% disseram que isso ocorre na maioria das vezes e 18,3% relataram que acontece apenas às vezes. Por outro lado, 34,4% dos pais negros afirmaram não vivenciar esse tipo de discriminação.

Segundo os autores da pesquisa, é importante destacar que as noções sobre masculinidade e responsabilidade parental estiveram sempre baseadas em perspectivas brancas. Os pesquisadores ressaltam que a possibilidade de exercer a paternidade só foi concedida ao homem negro após a abolição da escravatura, em 1888, o que significa que essa experiência tem menos de dois séculos no Brasil.

A cultura do afeto e do cuidado coletivo, presente na história do povo negro, pode apoiar os pais negros no exercício da paternidade. No entanto, é fundamental ressaltar que o movimento coletivo não retira a responsabilidade individual dos pais. Com os recorrentes ataques à população negra e os vestígios da escravidão que ainda ecoam na sociedade, muitos pais sentem a necessidade de conversar com seus filhos sobre a vulnerabilidade que os atinge e sobre as formas de resistência.

Os resultados do estudo mostram que oito em cada dez entrevistados acreditam que pais negros e brancos educam de maneira diferente. Além disso, cerca de 67,3% dos pais negros dialogam com seus filhos sobre os impactos do racismo na sociedade, sendo que 36,7% mantêm esse tema em pauta com frequência. A grande maioria dos participantes (90%) acredita que existe uma exigência maior para apresentarem repertório na educação de seus filhos, por serem pais de crianças negras.

Para os pesquisadores, a paternidade para os homens negros é um desafio que ultrapassa questões estruturais enraizadas historicamente. Eles argumentam que a vivência da juventude é negada ao homem negro, que lida ao longo de sua vida com as marcas do colonialismo, do racismo, da divisão sexual do trabalho e da desigualdade social.

Romper com o machismo e o racismo é uma luta constante para os homens negros que desejam exercer a paternidade. O estudo aponta que a associação dessas duas formas de opressão acaba se tornando uma barreira quase insuperável para o homem negro na sua jornada como pai.

Fonte: Instituto Promundo.

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