Alguns dos meus amigos corriam para a varanda sem nem me cumprimentar direito. Debruçavam-se, aplaudiam junto com o público que lotava a praça, e faziam fotos e vídeos para registrar o momento. Outros apenas davam uma rápida olhada na varanda e depois entravam. E havia aqueles que nem sequer olhavam para fora, desinteressados pelo que estava acontecendo.
Inicialmente, pensei que os menos interessados eram aqueles que não gostavam tanto de música, ou aqueles que já haviam viajado muito e visto muitas orquestras, o que poderia ter feito com que o entusiasmo se esgotasse. Porém, logo percebi que não há uma lógica simples que justifique o interesse humano.
Independentemente de tudo, o que mais motivava as pessoas a atravessarem a porta era a sua capacidade de se maravilhar com qualquer coisa, assim como uma criança.
Lembro-me de uma ocasião em que minha filha teve piolhos. Passei o pente fino em seu cabelo e o chão logo ficou cheio de pequenos pontos marrons e lêndeas branquinhas. Eu pedi que ela se afastasse para que eu pudesse limpar tudo imediatamente. No entanto, ela gritou, segurando meu braço impaciente. Em seguida, ela pegou uma lupa e se ajoelhou, observando fascinada o movimento lento dos parasitas com suas delicadas perninhas.
É com piolhos que começa o romance “Solenoide”, de Mircea Cartarescu, demonstrando que a capacidade de se maravilhar não é exclusiva das crianças. Ela também ocorre naqueles que não permitem que esse músculo se atrofie com o amadurecimento, travado pela vaidade ou pelo excesso de introspecção – algo que, infelizmente, às vezes cultivo enquanto penso no que escrever.
É por isso que viajar nos faz tão bem, porque em outra geografia nos permitimos ser tolos e ignorantes novamente – o pressuposto básico para se maravilhar. Assim, desarmados e de olhos bem abertos, somos tomados pelas surpresas e prazeres que a vida oferece. Tanto que, ao longo dos anos, passei a sentir inveja daqueles que se deslumbram facilmente. Ou daqueles que exploram todos os cantos e compram todos os souvenirs, buscando mais prazer na vida adulta do que eu.
No apartamento que aluguei, também havia crianças, incluindo aquela que se maravilhava com os piolhos. E, diante de seus rostos, havia telas. Mesmo possuindo a capacidade de se encantar, percebi que os pequenos também podem atrofiar esse músculo à medida que colocam uma barreira física entre seus olhos e o mundo.
Claro que também é possível se maravilhar com as telas, mas não é a mesma coisa. Além disso, a experiência da fisicalidade é sempre mais intensa. Maravilhar-se não diz respeito apenas ao objeto observado, mas também à forma como ele chega até nós: imprevisível, surpreendente e carregado dos mistérios da vida, ao contrário dos algoritmos carregados de mistérios criados pelos homens.
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