Candidato no Equador morto afirma à Folha que a população está exausta da corrupção.

O candidato à Presidência do Equador, Fernando Villavicencio, que foi assassinado dias antes das eleições, concedeu uma entrevista à Folha em 2017, na qual expressou o cansaço da população equatoriana em relação ao autoritarismo e à corrupção. Na época, Villavicencio estava escondido e considerado foragido da justiça devido à pressão que sofria do então presidente Rafael Correa em relação aos veículos de comunicação contrários ao governo.

Villavicencio, especializado em investigações sobre corrupção na exploração de petróleo e mineração, teve sua casa invadida em 2013 por policiais e funcionários da Presidência, após expor evidências de envolvimento ilícito de empresários aliados ao governo na venda de petróleo equatoriano para a China.

Após serem levados seu computador, Villavicencio foi preso preventivamente sob a acusação de hackear informações confidenciais do Estado. Na época, ele foi condenado a pagar uma multa de aproximadamente US$ 50 mil, porém, declarado insolvente, teve seus bens embargados e decidiu se exilar dentro do próprio país.

Apesar das dificuldades enfrentadas, o jornalista continuou trabalhando e se envolveu na campanha de apoio ao então opositor Guillermo Lasso, que hoje é presidente do Equador.

Villavicencio foi morto a tiros na quarta-feira (9), após um evento de campanha em Quito. O assassinato foi reivindicado pela facção Los Lobos, uma das maiores organizações criminosas do país, envolvida com tráfico internacional de drogas.

Na entrevista que concedeu à Folha, Villavicencio destacou a derrota de Rafael Correa nas eleições presidenciais e o desgaste de seu regime. Ele também apontou a necessidade de Guillermo Lasso se abrir para incluir em sua base eleitoral aqueles insatisfeitos tanto com o governo anterior quanto com o sistema político atual.

Villavicencio sugeriu a formação de um governo de coalizão e a criação de uma comissão da verdade para investigar casos de corrupção nos últimos dez anos. Ele também ressaltou a importância de incluir os povos indígenas nas decisões relacionadas à exploração mineradora de suas terras, já que eles perderam voz política nos últimos anos.

Quanto a Guillermo Lasso, o jornalista mencionou que, apesar de ser religioso e conservador, ele tem mostrado disposição em separar suas crenças pessoais das decisões políticas nesse sentido, caso essas sejam os desejos da sociedade equatoriana.

Caso Lasso seja eleito presidente, Villavicencio acredita que uma de suas principais tarefas será restaurar a independência dos poderes e das instituições do Equador, que foram enfraquecidos durante o governo de Correa.

Villavicencio destacou também a importância da Assembleia Nacional, que Lasso poderá contar com a legitimidade do voto popular para fazer alianças e negociações, o que faz parte do jogo democrático.

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