Uma nova exigência no concurso para professores do estado de São Paulo está gerando polêmica. Agora, as videoaulas valem o dobro em relação à pós-graduação e à experiência em sala de aula. Com isso, candidatos com prática em produção de conteúdo online podem ter vantagem sobre os professores que já estão em atividade ou que possuem mais tempo de estudo.
As apresentações em vídeo equivalem a 40% da nota final, enquanto as provas discursiva e objetiva valem, respectivamente, 10 e 30 pontos. Já a prova de títulos, que inclui formação acadêmica e experiência profissional, tem o máximo de 20 pontos.
A Secretaria de Educação afirma que as videoaulas serão usadas para avaliar, de forma prática, as habilidades de ensino dos candidatos. No entanto, não há resposta sobre por que essas apresentações têm tanto peso na nota final.
O envio dos vídeos foi a primeira etapa do concurso, que ocorreu antes das provas objetiva e discursiva. No entanto, somente os candidatos que tiverem bom desempenho nos exames terão seus vídeos avaliados.
Para o concurso, os professores precisaram gravar uma apresentação de 5 a 7 minutos sobre um tema previsto no edital. De acordo com o documento, o vídeo deveria simular uma aula, onde os alunos estariam do outro lado da câmera.
Essa nova etapa do concurso tem gerado dificuldades aos docentes. Alguns professores têm relatado insegurança e dificuldade em realizar a gravação. Em resposta a isso, Tiago Luz, professor de educação física e produtor de conteúdo online, criou um curso para ajudar candidatos que estão enfrentando essa situação.
Segundo Luz, o curso surgiu após ele receber diversas dúvidas nas redes sociais sobre essa etapa do concurso. Com cerca de 80 inscritos, o curso abrange desde a linguagem adequada até o uso de ferramentas de edição em smartphones.
No entanto, há preocupações a respeito dessa exigência de vídeos. Alguns professores acreditam que isso pode prejudicar aqueles com menos habilidades tecnológicas ou que não possuem acesso adequado a equipamentos. Ricardo da Silva Gomes, por exemplo, teve dificuldades em fazer a gravação devido à falta de equipamentos adequados.
De acordo com Eugenio Ramos, professor da Unesp-Rio Claro, a videoaula é uma evolução, mas possui limitações. Ele afirma que o formato atual não é capaz de captar adequadamente a profissão, mas apenas se o professor consegue se expressar como um youtuber em um tempo curto.
Além disso, Ramos destaca que a pontuação atribuída às videoaulas é desvantajosa, pois favorece professores com experiência em produção de vídeos. Para ele, a prova prática deveria ter menos peso na nota final.
Apesar disso, esse método tem se disseminado em outros concursos de professores pelo país. Em São Paulo, os candidatos foram a um local designado para gravar a videoaula, sem precisar levar equipamentos próprios. A mesma prática ocorre no concurso deste ano no Recife.
No Paraná, os professores também precisarão enviar vídeos que eles mesmos fizeram, mas apenas os aprovados na primeira fase.
O concurso paulista é o único que não solicita um plano de aula, descrevendo o conteúdo a ser ensinado pelo professor na gravação.
Roberto Guido, membro da diretoria-executiva do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, acredita que os vídeos indicam a intenção do estado em preparar a educação básica para o ensino a distância.
Ele afirma que o método atual de avaliação não é capaz de captar o que ocorre em uma sala de aula. Para ele, um vídeo não é suficiente para avaliar um professor de forma adequada.
A Secretaria de Educação informa que a Vunesp é responsável pelo processo do concurso e não detalha como será feita a avaliação dos vídeos.