Repórter São Paulo – SP – Brasil

“Um Pequeno Demônio na América”: Reflexões sobre a cultura negra nos EUA através de ensaios corajosos e impactantes.

O renomado poeta, ensaísta e crítico cultural Hanif Abdurraqib, em seu livro “Um Pequeno Demônio na América”, traz à tona um episódio marcante da indústria musical americana envolvendo a icônica cantora Whitney Houston. Abdurraqib rememora o momento em que Houston, então considerada a mulher negra mais poderosa da indústria musical, foi vaiada por sua própria comunidade ao receber o prêmio de Melhor Álbum de R&B no Soul Train Music Awards. Esse episódio emblemático expõe a pressão exercida por Clive Davis, produtor da Arista Records, para tornar Houston mais palatável ao público branco, o que resultou em Houston ser vista como traidora de seu povo.

O autor vai além ao questionar se a rejeição da comunidade à artista não estaria também contribuindo para um contexto mais amplo de desumanização. Abdurraqib ressalta a complexidade das questões raciais nos Estados Unidos, destacando a dificuldade de provar a negritude dentro de diversos contextos identitários. O autor aborda a problemática de ser negro nos EUA, destacando os desafios de estar sempre além ou aquém das expectativas sociais.

“Um Pequeno Demônio na América” se destaca por abordar questões raciais complexas e desafiadoras, sem oferecer soluções simplistas. A obra transita entre crônica cultural, reflexão crítica e relatos confessionais corajosos, explorando temas da cultura pop americana com profundidade. Abdurraqib resgata a memória negra, trazendo à tona personagens quase esquecidos e ressignificando narrativas estabelecidas.

O livro também aborda figuras conhecidas da cultura negra, explorando suas contradições e fissuras em vez de seguir narrativas previsíveis de superação. A melancolia presente na obra reflete a impossibilidade fundamental da existência negra na sociedade americana, sem perspectivas iminentes de transformação. No entanto, essa melancolia não se traduz em impotência, mas sim na busca por estratégias de resistência e resiliência.

Abdurraqib proporciona aos leitores uma reflexão profunda sobre a cultura negra e suas complexidades, iluminando aspectos que escapam às narrativas convencionais. A obra é um convite à dança, ao movimento e à busca de conexões espirituais em meio ao luto e à adversidade, mostrando que mesmo diante das derrotas acumuladas, há espaço para a expressão, a resistência e a esperança de dias melhores.

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