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Trio de pesquisadores desvenda segredo de papiro carbonizado por vulcão há 2.000 anos e ganha prêmio de US$700 mil

A descoberta e possível decifração de um livro escrito num rolo de papiro carbonizado pela erupção do vulcão Vesúvio há quase 2.000 anos tem empolgado historiadores, físicos e especialistas em inteligência artificial. A recompensa pelo sucesso inicial na decifração rendeu à equipe responsável pelo trabalho um prêmio de US$ 700 mil, proveniente do Desafio Vesúvio.

Os ganhadores do desafio são estudantes de ciência da computação e robótica: Luke Farritor, Youssef Nader e Julian Schilliger, provenientes dos Estados Unidos, Egito e Suíça, respectivamente. Apesar de terem decifrado apenas 5% do conteúdo do rolo, o grupo conseguiu ler algumas centenas de palavras em grego escritas em 15 colunas de texto. Esse é apenas o começo do desafio, mas a expectativa é que a combinação de tomografia computadorizada e inteligência artificial consiga, de forma não invasiva, ler uma parte considerável do conteúdo dos rolos carbonizados encontrados na cidade romana de Herculano.

Essa descoberta desperta entusiasmo entre historiadores e especialistas, uma vez que poucos textos da época da Antiguidade chegaram até os dias atuais. A maioria das obras da época é conhecida apenas por cópias manuscritas posteriores, e muitos livros desapareceram para sempre. A esperança é que os textos decifrados possam suprir o sumiço de obras de grandes autores, como o dramaturgo grego Eurípides.

Dentro dos textos de Herculano já lidos, predominam as obras da escola filosófica epicurista. A parte lida trata, especialmente, sobre a relação entre os sentidos humanos e o prazer. Acredita-se que a coleção de rolos de papiro era da biblioteca do filósofo epicurista Filodemo de Gadara. A decifração desses rolos foi um processo longo e colaborativo. Inicialmente, foram desenvolvidas técnicas para desenrolar virtualmente os papiros com o auxílio da tomografia computadorizada. No entanto, a tinta carbonizada nos manuscritos impediu que as imagens revelassem o texto. Foi a partir daí que surgiu a ideia de usar a inteligência artificial para achar padrões sutis de diferença entre as regiões com e sem tinta.

O método utilizado na decifração dos rolos de Herculano tem potencial para ser empregado em outros contextos semelhantes, como a leitura de textos que foram reaproveitados em bandagens de múmias do Egito antigo ou em palimpsestos. Essa descoberta representa um avanço considerável para o entendimento da vida intelectual na Antiguidade e traz esperança para a decifração de outros textos antigos que também foram carbonizados e, até então, impossíveis de ser lidos. A possível leitura desses rolos pode trazer novas informações sobre a filosofia e cultura da Antiguidade, contribuindo para o enriquecimento do conhecimento sobre esse período histórico.

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