Rosenmann conta que no dia 10 de setembro ele estava na Universidade Técnica do Estado, atualmente conhecida como Universidade de Santiago de Chile. No dia seguinte, o presidente Allende estava programado para inaugurar uma exposição de pintura antifascista junto com o reitor Enrique Kirberg e o famoso cantor Víctor Jara. Mas a realidade seria bem diferente.
No dia 11 de setembro, por volta das oito e meia da manhã, a notícia do golpe de Estado chegou até Rosenmann e seus colegas. A universidade foi fechada e eles ficaram dentro defendendo o governo, pensando que se tratava apenas de mais um levante. No entanto, a desilusão rapidamente se transformou em horror com o bombardeio contra o Palácio La Moneda, a sede do governo chileno. Rosenmann descreve esse momento como uma ruptura pessoal, quando ele entendeu pela primeira vez na vida o que era o fascismo.
A incerteza continuou a assolar o jornalista e seus colegas enquanto estavam isolados na universidade, enfrentando ataques das forças armadas. Mas a notícia da morte de Allende trouxe uma grande incredulidade. Durante a noite, eles sofreram ataques constantes e, no dia seguinte, foram ameaçados de entrega das instalações sob a mira de tanques. Rosenmann e seus companheiros foram detidos, interrogados e muitos deles nunca mais foram vistos.
Diante dessa brutal repressão e do fechamento das universidades, Rosenmann sentiu que o Chile já não era mais o país que sonhava. Sentia-se ameaçado de morte e decidiu deixar o país rumo à Espanha. Lá, decidiu mudar de carreira, abandonando a física e a engenharia para se tornar sociólogo. Essa mudança radical marcou o novo rumo de sua vida.
O jornalista explica que decidiu escrever um livro para combater a ideia de que o governo de Allende fracassou. Ele acredita que essa narrativa falsa se instalou no imaginário coletivo do país e é necessário desmantelá-la, especialmente para os jovens. Para Rosenmann, o governo de Allende foi capaz de realizar importantes reformas, como a reforma agrária, a nacionalização das riquezas básicas e a melhoria da educação e da saúde. No entanto, ele acredita que uma parte minoritária da esquerda chilena adotou essa ideia de fracasso, o que o levou a escrever o livro e denunciar essa mentira.
Rosenmann afirma que é preciso relembrar que o golpe de Estado não ocorreu quando Allende estava fracassando, mas sim quando ele estava conquistando o apoio do povo chileno. Ele destaca que o governo de Allende obteve 44% dos votos nas eleições de deputados em 1973, um nível de consenso sem precedentes na história do país. No entanto, a direita e a democracia cristã decidiram romper o diálogo e acabaram por dar o golpe de Estado.
O jornalista destaca que o Chile de hoje é reconhecido internacionalmente como um país progressista e próspero, mas isso só é possível negando a violação dos direitos humanos, a tortura, a pobreza e a desigualdade que ocorreram durante a ditadura de Pinochet. Portanto, é necessário rejeitar a ideia de fracasso do governo de Allende e reivindicar a verdadeira história do Chile.
Em suma, Rosenmann acredita que é importante desafiar as narrativas distorcidas e reconstruir a memória coletiva do Chile, especialmente entre os mais jovens. Ele espera que seu livro seja capaz de trazer luz à verdade e relembrar a importância do governo de Allende e suas conquistas.