Repórter São Paulo – SP – Brasil

Sindicato faz greve simultânea nas três grandes montadoras de Detroit, iniciando ação trabalhista histórica nos EUA

O sindicato United Auto Workers (UAW) iniciou uma greve simultânea nas três maiores montadoras de automóveis de Detroit na madrugada desta sexta-feira (15), marcando o início de uma das maiores ações trabalhistas do setor industrial nos Estados Unidos em décadas. A paralisação afetará a produção de modelos populares como o Ford Bronco, o Jeep Wrangler e o Chevrolet Colorado, além de outros veículos lucrativos das montadoras.

O presidente da UAW, Shawn Fain, declarou que, por enquanto, o sindicato adiará uma greve geral, porém, todas as opções continuam em aberto caso não sejam acordados novos contratos. Fain anunciou os planos para as paralisações simultâneas durante um discurso ao vivo no Facebook, apenas duas horas antes do vencimento do contrato antigo.

Essas greves históricas envolvem um total de 12.700 trabalhadores nas fábricas da Ford em Wayne, Michigan, da GM em Wentzville, Missouri, e da Stellantis, empresa controladora da Chrysler, em Toledo, Ohio. Essas fábricas são responsáveis pela produção de alguns dos veículos mais lucrativos das montadoras de Detroit.

Ao optar por paralisações direcionadas, Fain busca limitar os custos que o sindicato teria com pagamento de greve. A UAW possui um fundo de greve de US$ 825 milhões, que é insignificante quando comparado com as bilionárias reservas de liquidez acumuladas pelas montadoras, graças aos lucros obtidos com a produção de caminhões e SUVs pelos membros da UAW.

Uma greve limitada também pode minimizar os danos econômicos temidos por economistas e políticos caso houvesse um fechamento generalizado e prolongado das fábricas de Detroit. A Stellantis, por exemplo, possui mais de 90 dias de estoque de Jeeps e tem produzido SUVs e caminhões em horas extras.

No entanto, um fechamento de apenas uma semana na fábrica da Jeep em Toledo poderia resultar em uma redução de receita de mais de US$ 380 milhões, de acordo com dados financeiros da empresa. Portanto, especialistas estimam que uma paralisação limitada interromperia a produção de aproximadamente 24.000 veículos por semana.

As negociações entre a UAW e as montadoras estão centradas em questões salariais e de benefícios. Enquanto o sindicato deseja um aumento de 40%, as empresas ofereceram no máximo 20%, sem incluir os benefícios exigidos pela UAW. Além disso, nenhuma das montadoras de Detroit propôs eliminar os sistemas de salários diferenciados, nos quais os novos funcionários precisam permanecer no emprego por oito anos para receber o mesmo salário dos veteranos.

A Ford afirmou em comunicado que as propostas da UAW dobrariam os custos trabalhistas nos Estados Unidos, tornando-a não competitiva em relação a concorrentes não sindicalizados, como a Tesla. A GM e a Stellantis preferiram não comentar antes do prazo da greve.

O impasse nas negociações tornou-se uma questão política, com o presidente Joe Biden pedindo um acordo. Biden está investindo bilhões de dólares em subsídios federais para impulsionar as vendas de veículos elétricos, porém, a transição para essa tecnologia pode ameaçar os empregos dos trabalhadores do setor automotivo da UAW. Vale ressaltar que o sindicato não apoiou a reeleição de Biden.

Enquanto um acordo com uma ou mais montadoras pode ser alcançado a qualquer momento, a interrupção na produção pode ser uma oportunidade para as montadoras não sindicalizadas nos Estados Unidos, como Tesla, Toyota, Honda e Mercedes. Essas fábricas representam mais da metade dos veículos vendidos no mercado americano, juntamente com os veículos importados. No entanto, as montadoras de Detroit continuam construindo alguns dos veículos mais vendidos nos Estados Unidos, como os caminhões Ford F-150 e Chevrolet Silverado, além dos SUVs Jeep.

Em resumo, uma greve completa nas fábricas da Ford, GM e Stellantis nos Estados Unidos afetaria os lucros semanais em aproximadamente US$ 400 milhões a US$ 500 milhões para cada montadora afetada, de acordo com estimativas do Deutsche Bank. Algumas dessas perdas poderiam ser recuperadas aumentando os cronogramas de produção após o fim da greve, mas essa possibilidade diminui à medida que a paralisação se estende por semanas ou meses.

Sair da versão mobile