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Sertão de Alagoas sofre com a falta de cisternas e abandono de políticas públicas para o combate à seca

No sertão de Alagoas, a cena dos jegues carregando galões azuis de plástico é frequente e simboliza a dura realidade da falta de água na região. Os moradores enfrentam uma peregrinação diária em busca de água, fazendo várias viagens por dia em trajetos íngremes e sob o sol escaldante. O abandono das políticas públicas no semiárido brasileiro agrava ainda mais essa situação.

Um estudo inédito realizado pela Embrapa Territorial revela que as cidades prioritárias para a instalação de cisternas não receberam nenhum reservatório no último ano dos órgãos federais responsáveis pelo problema. A maioria desses municípios está em Alagoas, como é o caso de Mata Grande, que atualmente está em situação de emergência.

Na cidade, mais de mil casas precisam de cisternas para armazenar água, porém, há tempos o poder público não instala nenhum desses equipamentos e os existentes estão em péssimo estado, construídos antes do abandono do programa federal de cisternas durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro.

A falta de acesso à água potável leva os moradores a percorrer longas distâncias em busca de fontes, em caminhadas que podem durar até duas horas em terrenos acidentados. Além disso, eles precisam trazer remessas de água para realizar tarefas básicas como tomar banho, lavar louça e alimentar os animais.

A situação é ainda mais grave para os idosos e doentes, que não têm condições de fazer essas caminhadas. A agricultora Inês Galdino, de 82 anos, vive em Mata Grande e não possui uma cisterna em sua casa. Ela gasta parte do pouco dinheiro que possui pagando moradores locais para trazer seu suprimento de água de carroça.

Enquanto isso, a comunidade do Urubu, próxima de Mata Grande, começa a vislumbrar uma realidade diferente. A organização Visão Mundial, em parceria com a iniciativa privada, instalou 20 cisternas no local e prevê chegar a cem até 2024. Para os moradores, isso representa uma revolução nas suas vidas, já que a falta de acesso à água é um dos principais desafios que enfrentam diariamente.

A escassez de água também afeta a produção de alimentos na região. Segundo a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), há uma demanda de cerca de 800 mil cisternas maiores para a produção de alimentos no semiárido brasileiro. Em Alagoas, esse número é de cerca de 27 mil.

A falta de água afeta não apenas a subsistência das famílias, mas também a economia das regiões afetadas. Agricultores dependem da água para cultivar suas terras e garantir sustento para suas famílias. Além disso, a falta de água encanada afeta o abastecimento nas áreas urbanas, levando os moradores a recorrer a carroças e motos para buscar água em tonéis.

Diante desse cenário, as cisternas se tornam fundamentais para garantir o acesso à água e diminuir a dependência dos políticos locais. O investimento para a instalação de cisternas é relativamente baixo se comparado ao impacto positivo que isso teria na vida das pessoas.

Enquanto isso, as comunidades continuam a lutar diariamente pela tão necessária água, enfrentando longas caminhadas e pagando caro por um recurso essencial para a vida. É urgente que as políticas públicas sejam implementadas de forma efetiva nessas regiões, garantindo o abastecimento de água e melhorando a qualidade de vida da população.

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