Repórter São Paulo – SP – Brasil

Sem licença maternidade remunerada, Estados Unidos colocam mulheres como rede de segurança social em sociedade do “faça você mesmo”

Os Estados Unidos, embora sejam considerados um país rico e desenvolvido, estão em uma situação preocupante quando se trata de políticas de licença-maternidade e paternidade remuneradas. De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os EUA estão classificados em penúltimo lugar entre 38 países no ranking de gastos públicos voltados para famílias, representando apenas 0,6% do PIB.

Essa situação levanta questionamentos sobre o modelo de sociedade adotado nos Estados Unidos, denominado pela socióloga Jessica Calarco como “sociedade do faça você mesmo”. Nesse modelo, o Estado se isenta de investir em infraestrutura social, deixando às mulheres o papel de preencher as lacunas deixadas pela ausência de políticas públicas efetivas.

O livro “Holding It Together: How women became America’s social safety net” lançado pela professora da Universidade de Wisconsin-Madison em junho, aborda justamente essa questão, destacando o papel das mulheres como a principal rede de segurança social nos Estados Unidos.

Com o contexto eleitoral americano em 2024, os debates sobre modelos de família ganham destaque, refletindo o esgotamento do modelo tradicional, no qual as mulheres são pressionadas a assumir o papel de cuidadoras. J.D. Vance, candidato a Vice-Presidente na chapa de Donald Trump, representa uma reação a essa realidade, buscando reforçar a valorização da maternidade e pressionando as mulheres a retornarem ao papel de cuidadoras.

O discurso de Vance, que envolve críticas ao divórcio, ao direito ao aborto e à defesa de mais peso político para pessoas com filhos, está inserido em um contexto mais amplo de retrocesso nas questões de gênero e igualdade. Infelizmente, esse discurso atrai parte do eleitorado jovem masculino, que sente suas posições ameaçadas diante das mudanças sociais e de gênero.

Diante desse cenário, a implementação de um programa conservador radical, como proposto por Vance e Trump, poderia enfrentar oposição massiva na sociedade, evidenciando a necessidade de uma reflexão mais profunda e democrática sobre as políticas de proteção e igualdade de gênero nos Estados Unidos.

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