Seca histórica na Amazônia alerta para possível colapso irreversível da floresta e necessidade urgente de ações para reverter o processo.

A seca severa que assolou a Amazônia neste ano deixou um cenário desolador, com rios em níveis historicamente baixos e comunidades inteiras isoladas, sem acesso adequado a alimentos e água potável. Além disso, o tempo seco contribuiu para o aumento das queimadas, que destroem florestas e plantações e poluem o ar. Essa situação coloca em alerta não só o presente, mas também o futuro da região amazônica.

A comunidade científica tem advertido que as mudanças climáticas e o desmatamento podem levar à morte da floresta, gerando emissões de carbono em larga escala, desregulando o sistema de chuvas no continente e levando à extinção de centenas de espécies endêmicas do bioma.

Em entrevista à DW, o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), falou sobre a atual seca na região e alertou para um possível colapso irreversível da floresta amazônica. Segundo seus estudos, a Amazônia corre o risco de perder suas características de floresta tropical úmida e se transformar em um bioma desértico, similar ao cerrado.

Nobre explica que essa transformação ocorreria devido às mudanças climáticas que estão afetando a região. O aquecimento global tem induzido um prolongamento da estação seca na Amazônia, que já está durando de quatro a cinco semanas a mais do que o normal. Além disso, o desmatamento faz com que a região recicle menos água do que a floresta, contribuindo para o aumento da estiagem.

Atualmente, a seca na Amazônia já é considerada histórica e pode ser vista como um sintoma desse processo de desertificação. Ela está relacionada ao fenômeno El Niño, que tem se intensificado na região. Recentemente, secas fortes têm se tornado cada vez mais frequentes no sul da Amazônia.

O desmatamento na região já atinge uma taxa de 17% e, se continuar nesse ritmo, pode alcançar 20% em menos de duas décadas. Segundo os últimos compromissos da COP27, o aumento da temperatura poderia chegar a 2,4°C a 2,6°C até 2050. Nesse ritmo, o ponto de não retorno seria alcançado até essa data.

No entanto, Nobre acredita que ainda há chances de reverter esse quadro de desertificação. Ele destaca a importância de zerar o desmatamento, a degradação e o fogo na região, além de promover um grande projeto de restauração florestal em todo o sul da Amazônia.

A degradação extrema na parte sul da Amazônia pode comprometer outras regiões, pois a floresta está reciclando menos água e, consequentemente, transportando menos vapor d’água para outras áreas. Isso torna essas regiões mais vulneráveis e suscetíveis à degradação.

As consequências da desertificação da Amazônia seriam graves não apenas para o Brasil, mas também para o mundo. A floresta desempenha um papel fundamental no armazenamento de carbono e na regulação da temperatura. Se a floresta for substituída por ecossistemas degradados ou pastagens, a temperatura aumentaria ainda mais, comprometendo outros biomas e dificultando o alcance das metas do Acordo de Paris.

Além disso, a Amazônia é a região com a maior biodiversidade do planeta, abrigando centenas de milhares de espécies endêmicas. A desertificação afetaria gravemente essas espécies, levando ao seu desaparecimento e aumentando os riscos de epidemias e pandemias.

A seca e os eventos extremos na região amazônica já estão se tornando mais comuns devido ao aquecimento global. A temperatura tem aumentado significativamente e os extremos estão acontecendo em todo o planeta.

Para reverter o desmatamento e garantir a sustentabilidade da região amazônica, Nobre propõe ações imediatas, como combater o desmatamento ilegal e implementar projetos de restauração florestal. Além disso, é importante buscar soluções baseadas na natureza e desenvolver uma nova economia para a Amazônia, baseada no conhecimento dos povos indígenas, em sistemas agroflorestais e nos produtos da biodiversidade.

Em resumo, a seca histórica na Amazônia é um sinal alarmante das mudanças climáticas e do desmatamento na região. O colapso irreversível da floresta amazônica seria devastador para o país e para o mundo, afetando o clima, a biodiversidade e a segurança alimentar. É urgente agir para reverter esse processo e garantir um futuro sustentável para a Amazônia e suas comunidades.

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