Repórter São Paulo – SP – Brasil

Revista científica revela resiliência surpreendente de plantas helicônia após devastação por furacão no Caribe. Novos polinizadores assumem papel crucial.

Após a passagem do furacão Maria pela ilha de Dominica, no Caribe, em 2017, acredita-se que as duas espécies de plantas helicônia, juntamente com seu polinizador exclusivo, o beija-flor-de-pescoço-roxo, estavam condenadas à extinção. Isso porque o furacão devastou a região e matou 75% da população de beija-flores-de-pescoço-roxo, tornando incerta a continuidade da relação mutualista estabelecida entre essas espécies.

No entanto, um estudo recente publicado no periódico New Phytologist trouxe revelações surpreendentes. Pesquisadores, em colaboração internacional, descobriram que outras espécies de pássaros passaram a polinizar as helicônias da região, substituindo o papel desempenhado pelo beija-flor-de-pescoço-roxo. Essa descoberta mostra que os sistemas de polinização podem se adaptar após eventos naturais extremos, como furacões, oferecendo resiliência ao ecossistema.

O pesquisador Fernando Gonçalves, do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima, sediado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), explicou que a diminuição drástica da população do beija-flor-de-pescoço-roxo permitiu que outras espécies de aves se tornassem polinizadoras efetivas das helicônias. A pesquisa detalhada realizada na região mostrou que outras espécies de beija-flores e até mesmo o pássaro cambacica passaram a visitar e polinizar as flores de helicônia.

Essa descoberta é relevante não apenas do ponto de vista da biologia, mas também porque mostra que o processo de extinção de espécies é mais complexo do que se imaginava. A relação de coadaptação e codependência entre as espécies pode ser quebrada por eventos extremos, permitindo que outras espécies ocupem o papel desempenhado pelas espécies ameaçadas.

Os pesquisadores acreditam que, se não houver outras catástrofes naturais na região, as duas espécies de helicônia e o beija-flor-de-pescoço-roxo poderão restabelecer sua relação exclusivista no futuro. Novos estudos estão sendo realizados para confirmar essa hipótese e avaliar os impactos de fenômenos naturais sobre o comportamento evolutivo de outras espécies na região. A pesquisa continua em andamento, com a monitoração de outros eventos climáticos para entender melhor as consequências desses fenômenos na biodiversidade da ilha de Dominica.

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