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Renúncia da primeira reitora negra de Harvard provoca debates sobre antissemitismo, racismo e influência de grandes doadores nos campi dos EUA

A renúncia da primeira mulher negra a ocupar o posto de reitora da Universidade Harvard provocou debates sobre antissemitismo, racismo e misoginia nos campi dos Estados Unidos. Quase um mês depois, alunos e professores discutem a influência de grandes doadores e o uso da filantropia como instrumento de pressão sobre as instituições de ensino, em especial o papel do bilionário Bill Ackman, de 57 anos, na queda de Claudine Gay.

A fritura da ex-reitora foi impulsionada por Ackman, ex-aluno de Harvard e um dos maiores benfeitores da instituição. Descendente de judeus e casado com a israelense naturalizada americana Neri Oxman, Ackman ganhou projeção nacional após denunciar uma suposta tolerância da universidade em relação a discursos antissemitas durante a guerra entre Israel e Hamas.

Ackman argumenta que a intransigência no ambiente acadêmico é resultado de uma ideologia que ganhou força nos últimos anos com as chamadas iniciativas DEI (diversidade, equidade e inclusão). Na visão dele, esse movimento busca intimidar pontos de vista diferentes, o que ajudou a espalhar discursos de ódio anti-Israel e antijudaico.

Bacharel em artes e com pós-graduação em administração de empresas, Ackman ganhou prestígio no mercado financeiro ao fazer movimentações ousadas que incluíram apostas na desvalorização de grandes companhias. Ele acumulou uma fortuna estimada de US$ 2,5 bilhões a US$ 4 bilhões e criou a Pershing Square, empresa que administra US$ 18 bilhões em ativos.

Parte de seus lucros foi direcionada a Harvard, instituição com a qual sempre manteve proximidade. Ao longo dos anos, Ackman teria doado cerca de US$ 50 milhões à universidade.

Após a renúncia de Gay, Ackman se tornou alvo de protestos de setores progressistas, mas também foi elogiado por representantes da comunidade judaica e até pelo magnata Elon Musk. Sua influência na disputa com o establishment acadêmico dos EUA sobre plágio e o futuro do ensino superior tornou-o referência entre manifestantes conservadores que dizem combater a cultura “woke”, termo jocoso para bandeiras de diversidade.

A influência de doadores sobre as políticas universitárias voltou ao centro das atenções quando Mark Zuckerberg, CEO da Meta, organizou um evento virtual em apoio a Sam Lessin, investidor do Vale do Silício que está concorrendo a uma vaga no conselho de supervisores de Harvard, órgão administrativo formado por ex-alunos que aconselha a liderança da instituição.

Assim como Zuckerberg, Ackman propôs sua lista de candidatos para o conselho de supervisores e defende que os diretores das faculdades sejam recrutados do mundo dos negócios. No entanto, representantes acadêmicos alertam que o engajamento dos empresários no ambiente de ensino ameaça a independência das instituições.

Após a renúncia de Gay, Ackman anunciou a compra de uma participação de quase 5% na Bolsa de Valores israelense, em um movimento que mostra o seu alinhamento com Tel Aviv, tanto no mundo dos negócios quanto nas universidades. Ações como essa fazem Ackman se manter firme na defesa de Israel, trabalhando para “consertar o que está errado”.

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