Após quatro anos de discussões, a população parece enterrar a possibilidade de revisão da Carta Magna herdada do regime do ditador Augusto Pinochet, escrita em 1980. Essa decisão simbolicamente representa também uma espécie de vitória invertida para o presidente de esquerda, Gabriel Boric. Ele havia pressionado o seu antecessor, Sebastián Piñera, a dar início ao processo constitucional e acabou por ver uma versão progressista do texto ser rejeitada em 2022. Agora, Boric ganha um respiro com a recusa da população à segunda versão mais conservadora.
O cientista político Gabriel Gaspar destacou que o resultado representa uma derrota para os republicanos, liderados pelo ex-presidenciável José Antonio Kast, colocando a direita tradicional em primeiro plano e fortalecendo a candidatura presidencial de Evelyn Mathei para 2025. Além disso, o governo conseguiu um alívio parcial, embora ainda não esteja claro se poderá recuperar a agenda nacional.
Nos colégios eleitorais, durante o dia da votação, o sentimento predominante era de que a Constituição atual é “a menos pior”. Exemplo disso foi a declaração da designer Antonieta Fuentes, 34, que afirmou preferir ficar com a Constituição ruim de Pinochet do que com a pior de José Antonio Kast.
Com este resultado, a população chilena parece ter tomado uma decisão em relação ao rumo político do país, que impactará não apenas as futuras eleições presidenciais, mas também a direção dos debates políticos e sociais nos próximos anos. A rejeição da proposta de uma nova Constituição representa, portanto, um marco na história política do Chile.