Recordes de produção agrícola em 2022 escondem graves crises climáticas no Brasil, afetando principalmente os agricultores gaúchos

Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2022 apontaram recordes no volume e no valor da produção no país. No entanto, por trás desses números positivos, esconde-se uma grave crise climática que tem afetado as regiões agrícolas brasileiras, em especial o estado do Rio Grande do Sul.

Apesar de sua dimensão continental, o Brasil possui regiões que, apesar de compensarem outras em termos de produção, não conseguem eliminar os danos causados pelo clima aos agricultores. Nos últimos anos, os gaúchos têm sido os mais afetados por essa situação, principalmente no cultivo de soja.

No ano passado, enquanto o país comemorava o recorde de produção e renda de grãos, impulsionado pelos elevados preços internacionais, os produtores de Ubiretama (RS) alcançaram uma média de apenas 130 quilos de soja por hectare, quando o normal seria 55 quilos. A média de toda a região Sul, a mais afetada pela seca, foi de apenas 2.006 kg, representando 57% do volume obtido pelos agricultores do Nordeste.

Dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, apenas 3 deles conseguiram superar a média de produção da região Sudeste, que foi de 3.700 kg. Esses números confirmam a queda na produtividade que tem sido constante na região, chegando a uma média 20% inferior à nacional nos últimos cinco anos.

A safra de 2023, que era esperada como um período de recuperação, teve uma produtividade inferior a 2.000 kg por hectare, enquanto a média nacional subiu para 3.508 kg. Além do impacto na produção de soja, o clima também prejudicou a cultura do arroz, o que é preocupante, uma vez que o Rio Grande do Sul é o principal produtor do cereal no país.

Em relação aos valores da produção agrícola, o Rio Grande do Sul teve uma participação de apenas 7,8% no total nacional em 2022, o que o levou à 6ª posição no ranking. No ano anterior, o estado ocupava o segundo lugar, com uma participação de 12,2%. Essas quedas de produtividade e produção na região Sul fizeram com que sua contribuição para o valor total da produção nacional recuasse em 12%.

Apesar desses desafios, as previsões iniciais para 2024 indicam uma boa evolução em produtos importantes para o estado, como o arroz. No entanto, as recentes quebras de safra na região fizeram com que os produtores perdessem os bons preços que vinham sendo registrados internacionalmente. A oferta mundial maior, a demanda acomodada e a recomposição de estoques, juntamente com a queda na cotação do dólar, representam ameaças à rentabilidade do setor no próximo ano.

A produção de soja, que representa 51% do volume de grãos produzidos no país, também foi afetada. Em 2021, os gaúchos foram responsáveis por 15% do volume exportado, mas no ano passado, essa participação caiu para 7%.

O desempenho da safra atualmente em semeadura dependerá das condições climáticas, especialmente em um ano de intenso calor, chuvas irregulares e possível presença do fenômeno El Niño.

Diante desse cenário, é crucial que sejam desenvolvidas políticas públicas e investimentos em tecnologias agrícolas que possam mitigar os impactos das crises climáticas na produção agrícola do país, garantindo a segurança alimentar e sustentabilidade do setor.

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