Repórter São Paulo – SP – Brasil

Produção de cocaína na América Latina migra para países da América Central e México, revela investigação jornalística transfronteiriça.

A próspera economia das plantações de coca de El Porvenir, em Costa Grande, no sudoeste do México, é um exemplo do que os especialistas chamam de “efeito balão” no tráfico internacional de drogas. Quando as autoridades endurecem a fiscalização em um local, a produção de cocaína simplesmente se desloca para outro lugar, assim como o ar num balão. A pacificação das Farc, grupo que controlava 40% do comércio global de cocaína, não fez encolher o tráfico – ele apenas mudou de mãos. A fragmentação do grupo rebelde criou um “mercado livre”, mais competitivo, diversificado e compartimentado. Nesse processo, a América Central entrou no circuito.

Anteriormente, a região era usada apenas como ponto de trânsito para traficantes, mas agora tornou-se uma importante produtora de cocaína em larga escala, disputando mercado com grupos tradicionais da Colômbia e das regiões andinas de Peru e Bolívia. Países como México, Guatemala e Honduras têm visto um aumento significativamente grande no cultivo de coca, à medida que as plantações se deslocam para essas áreas como uma resposta à fiscalização mais rigorosa em outras regiões.

No caso de El Porvenir, a economia do vilarejo passou por uma série de transformações nas últimas décadas. Originalmente habitada por cafeicultores, a região viu sua renda despencar quando a cotação do café diminuiu no mercado mundial nos anos 1990. Para sobreviver, os moradores passaram a cultivar coco e manga, mas logo descobriram que os cultivos mais lucrativos eram os ilegais: maconha e papoula. No entanto, a popularização do fentanil, um opioide sintético, nos Estados Unidos, principal mercado dos agricultores mexicanos, reduziu a demanda por papoula, levando ao declínio de sua produção.

Com o preço do ópio em queda, os moradores passaram a buscar uma nova fonte de renda, coincidindo com a chegada de facções criminosas que começaram a se instalar na região para investir na plantação de folha de coca. O cultivo, que pode ser usado para produzir cocaína, é altamente lucrativo, e os agricultores rapidamente aderiram ao plantio. A violência também tem desempenhado um papel importante na rápida expansão destes negócios, com grupos criminosos impondo aos moradores de El Porvenir a escolha entre cooperar ou enfrentar as consequências. Os traficantes não se importam com a qualidade, apenas com a quantidade, o que levou a um rápido aumento no cultivo de coca na região.

Além disso, a fragmentação dos grandes grupos que controlavam a cadeia de produção de cocaína na América Latina, especialmente após o desarmamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2016, criou um mercado mais livre e competitivo. Isso levou ao surgimento de pequenas facções independentes, muitas delas dissidentes das próprias Farc, que passaram a controlar operações na região. O resultado foi uma expansão significativa do cultivo de cocaína no México, Guatemala, Honduras e outros países da América Central, com quase 80% das plantações destruídas pelas autoridades mexicanas nos últimos quatro anos concentradas em Costa Grande, no estado de Guerrero.

Este aumento na produção de cocaína na América Central é um reflexo do “efeito balão” no tráfico de drogas, onde as plantações e operações simplesmente se deslocam de acordo com a intensificação da fiscalização em outras regiões. Com a facilidade de transporte e proximidade com os pontos de venda, os traficantes se beneficiam dos preços altos e evitam despesas de transporte enquanto reduzem o risco de apreensão do produto no caminho. Além disso, a baixa presença do Estado em áreas remotas facilita o cultivo e produção de cocaína em regiões como o nordeste da Guatemala e os departamentos de Colón e Olancho em Honduras.

Apesar deste crescimento, no entanto, os novos polos de produção na América Central ainda não são páreo para os gigantes andinos, como a Colômbia, que continua a liderar a produção de cocaína na região. No entanto, as autoridades internacionais estão atentas ao aumento significativo no cultivo de cocaína e aos novos territórios que estão sendo explorados pelos traficantes, como as selvas do Panamá e o estado de Chiapas, no México. A constante expansão dessas plantações representa um desafio cada vez maior para aqueles que combatem o tráfico internacional, pois o “efeito balão” continua a empurrar as operações de um lugar para outro em uma batalha constante para conter a produção e distribuição de cocaína.

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