Prisão ilegal de funcionários chineses no Rio de Janeiro em 1964: a verdade por trás deste episódio histórico

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No dia 3 de abril de 1964, uma delegação comercial composta por nove funcionários do Governo da República Popular da China foi presa ilegalmente no Rio de Janeiro. A ação aconteceu de forma violenta, com invasões em dois endereços diferentes, resultando em atos de violência e tortura contra os chineses.

Os primeiros quatro funcionários – Wang Weizhen, Ju Quingdong, Ma Yaozeng e Su Ziping – foram presos em um apartamento no bairro do Flamengo. Pouco tempo depois, outras cinco pessoas – Wang Yaoting, Hou Fazeng, Song Guibao, Wang Zhi e Zhang Baosheng – foram presas em um apartamento no bairro do Catete. A polícia não tinha mandado de prisão para nenhum deles.

A prisão e tortura dos chineses foi amplamente divulgada pela imprensa da época, principalmente pelo secretário de Segurança Pública do Estado da Guanabara, o Coronel-Aviador Gustavo Borges. Em suas declarações, Borges sustentou que os funcionários eram espiões da RPC e estavam envolvidos em atividades subversivas.

Os nove chineses haviam chegado ao Brasil durante o governo do Presidente João Goulart e estavam vinculados a diferentes entidades estatais da RPC. No entanto, o Brasil mantinha relações diplomáticas com o governo de Taipé, que se opunha à presença de funcionários da RPC no país.

Após passarem por um longo processo judicial, os nove chineses foram condenados a 10 anos de prisão por tentativa de mudança da ordem política e social estabelecida na Constituição. Entretanto, foram absolvidos da acusação de manterem serviço secreto destinado à espionagem.

A verdadeira história sobre essa delegação comercial só veio à tona recentemente com a pesquisa realizada pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). A CNV ouviu pessoas envolvidas no caso e colheu depoimentos que comprovam as violências e torturas cometidas contra os chineses.

O advogado Danillo Santos, que foi detido brevemente pelo DOPS pouco depois da prisão dos chineses, trouxe informações sobre as sequelas das torturas sofridas pelos presos. O embaixador Carlos Antônio Bettencourt Bueno confirmou que o governo chinês sempre designava um dos chineses presos para acompanhar as delegações brasileiras que visitavam a China.

Apesar de muitas perguntas ainda ficarem sem resposta, como o envolvimento do governador Carlos Lacerda na operação e a possível intervenção do governo de Taipé, a CNV considera o caso dos chineses como um exemplo das violações de direitos humanos cometidas durante o regime militar no Brasil.

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