Pesquisa revela causa genética para puberdade precoce em meninas sem anormalidades neurológicas, aponta estudo brasileiro

Nos últimos anos, a incidência de puberdade precoce central (PPC) tem aumentado em todo o mundo. Esse distúrbio, considerado raro, está associado à ativação antecipada do relógio biológico causada pelo hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH). Além dos fatores ambientais, como a exposição a compostos químicos que interferem no sistema endócrino, o melhor diagnóstico e acesso ao tratamento também têm contribuído para o aumento dos casos.

O tratamento da PPC é feito com compostos análogos do GnRH, substâncias que se ligam aos receptores e impedem sua ação. Um estudo populacional realizado na Dinamarca em 2005 revelou uma incidência de cinco casos a cada 10 mil meninos e de 20 a 23 casos a cada 10 mil meninas.

Recentemente, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e colaboradores estrangeiros publicaram um estudo na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology que revela uma causa genética para o distúrbio. Eles identificaram mutações no gene MECP2 em crianças com puberdade precoce central, mesmo na ausência de anormalidades neurológicas graves. Essas alterações genéticas são semelhantes às encontradas em pessoas com a síndrome de Rett, um distúrbio neurológico que causa déficits cognitivos e motores.

O estudo foi realizado com 404 crianças com sinais de puberdade precoce e encontrou mutações no gene MECP2 em sete meninas sem anormalidades neurocognitivas significativas. Além disso, testes em camundongos mostraram que esse gene está expresso nos neurônios responsáveis pela produção do GnRH, o hormônio responsável pelo início da puberdade.

De acordo com Ana Pinheiro Machado Canton, pesquisadora da FMUSP e autora do estudo, aproximadamente 75% dos casos de puberdade precoce central são considerados esporádicos, ou seja, não têm origem genética na família. No entanto, essa descoberta permite um melhor aconselhamento genético e acompanhamento do desenvolvimento das crianças afetadas.

Além disso, os resultados também abrem caminho para o estudo de novas abordagens terapêuticas. Mesmo com tratamentos já existentes e efetivos, a identificação de fatores genéticos como a mutação no gene MECP2 possibilita uma maior compreensão do distúrbio e a busca por novas formas de tratamento.

O grupo de pesquisadores envolvidos pretende avaliar mais pacientes e investigar os mecanismos pelos quais a proteína MECP2 regula o início da puberdade. O estudo foi realizado em parceria com pesquisadores de universidades do Reino Unido, Estados Unidos, França e Espanha.

Em conclusão, a puberdade precoce central é um distúrbio que vem se tornando mais comum em todo o mundo. Estudos recentes têm revelado causas genéticas para o distúrbio, como as mutações no gene MECP2. Essas descobertas permitem um melhor acompanhamento e tratamento das crianças afetadas, além de possibilitar o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas. O próximo passo será a realização de novas pesquisas para aprofundar o conhecimento sobre a regulação da puberdade e suas implicações clínicas.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo