“Pequenas Áfricas: o Rio que o Samba Inventou” apresenta a história do samba carioca e sua influência na cultura brasileira.

No começo do século 20, fotografias em preto e branco retratavam uma zona portuária carioca completamente diferente daquela que conhecemos hoje, marcada pelos morros da Providência e da Conceição. A Praça Onze e seus arredores eram habitados majoritariamente por uma população negra, apenas alguns anos após o fim da escravidão no Brasil. Foi nesse ambiente que o samba carioca nasceu, com artistas como Donga, Cartola e Pixinguinha, acompanhando o ritmo da cidade até se firmar nas escolas de samba que conhecemos atualmente. Essa história de conflitos e conquistas é contada através de fotografias, objetos e vestimentas na mostra “Pequenas Áfricas: o Rio que o Samba Inventou” no Instituto Moreira Salles.

Antes de entrar na exposição, o público é recebido por um jardim suspenso de ervas sagradas, feito pela mãe de santo Celina de Xangô, e uma pequena reprodução do Cais do Valongo, o maior porto de escravos das Américas no século 19. Essa instalação serve para purificar o ambiente, que não retrata a dor da comunidade negra, mas sim o resultado de sua criação, que hoje é considerado patrimônio nacional.

Foi o sambista e artista Heitor dos Prazeres quem batizou a região como Pequena África. Porém, com a construção da linha férrea e da Avenida Presidente Vargas na década de 1940, o caldo cultural que se formava na área precisou se espalhar para outros pontos da cidade.

Uma das curadoras da exposição, Angélica Ferrarez, enxerga essa movimentação urbana de forma positiva, pois a população negra foi se espalhando por diversos bairros do Rio de Janeiro. A curadora destaca também o papel do samba como uma ferramenta de trabalho para a comunidade, destacando a carteira de trabalho de Pixinguinha como um exemplo disso.

Muitos sambistas encontraram emprego no rádio e em órgãos públicos, enquanto outros ganhavam a vida se apresentando em boates e navios. A mostra aborda também as condições precárias de trabalho enfrentadas pela população negra brasileira, tanto dentro das escolas de samba quanto em outras áreas.

A exposição também dedica uma parte de seu espaço ao “Museu dos Pobres”, que homenageia Dodô da Portela, uma das grandes figuras do samba carioca que guardava um rico acervo em sua própria casa. No segundo piso, são abordadas as mudanças enfrentadas pelo samba a partir da década de 1960, com acusações de embranquecimento das escolas de samba.

A mostra encerra com uma espécie de árvore genealógica do samba carioca, mostrando os laços que foram criados a partir da música. A curadora Angela Ferrarez destaca a importância de se olhar para outras cidades brasileiras, como São Paulo, Salvador e Olinda, e pensar em uma cartografia negra da cidade. A exposição “Pequenas Áfricas” convida o público a refletir sobre o legado do samba e das religiosidades afro-brasileiras, que se espalhou pelo Brasil.

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