Líderes evangélicos que apoiaram Bolsonaro tanto em 2018 como em 2022, inclusive indo em reuniões com o então chefe do Executivo e o convidando para seus púlpitos, afirmam que o sentimento mudou. Nas palavras de um deles, as medidas autorizadas por Alexandre de Moraes, que podem implicá-lo numa trama golpista que incluía prender o próprio ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e convocar novas eleições que invalidaram a vitória de Lula, complicam efetivamente a situação de Bolsonaro ante essa liderança cristã.
Um grupo de WhatsApp que reúne vários desses pastores graúdos, o Aliança, continuava em silêncio sobre a operação policial horas depois de agentes apreenderem o passaporte de Bolsonaro. Em conversas privadas, um ou outro trocavam impressões, pedindo orações para o nome que endossaram com entusiasmo no pleito do ano retrasado.
Falar abertamente ninguém quer, com exceção do pastor Silas Malafaia, o único da turma que continuou ao lado do ex-presidente após a derrota nas urnas e consecutivos reveses judiciais. Malafaia chamou os colegas de “um bando de covardes e cagões históricos” e afirmou que muitos estão evitando associar-se a ele por medo de represálias. Em 2022, Malafaia aconselhou Bolsonaro a invocar o artigo 142 da Constituição, que trata do papel das Forças Armadas na República.
O pastor também define como “estúpido e esdrúxulo o que Alexandre vem dizendo o tempo todo” e diz que, se prezasse pela transparência, Moraes nem sequer deveria ter presidido o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) durante a eleição, “porque foi secretário de Segurança de Alckmin, candidato a vice numa chapa”. Outros pastores que se posicionaram publicamente em 2022, muitos ainda reservavam críticas a Lula, mas já vinham ensaiando uma trégua, com elogios à economia sob a batuta lulista.
Portais voltados ao público evangélico, como o Pleno News, deram destaque à operação contra Bolsonaro. O tom é mais simpático ao ex-presidente. A bancada evangélica, que empossou na quarta (7) um aliado de Bolsonaro em sua presidência, o deputado Eli Borges (PL-TO), ainda não se pronunciou. Internamente, integrantes avaliam que um posicionamento pró-Bolsonaro pode ser temeroso, já que boa parte do bloco é composta por representantes de partidos de centro que se alinharam ao governo Lula.
Já Borges diz à reportagem que, “no momento certo”, a frente deve se posicionar. “Vou tomar mais pé da situação”. Para o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-presidente da bancada, Moraes está em busca “da cereja do bolo, que é a prisão do Bolsonaro”. Membro da igreja de Malafaia, o parlamentar diz que operações como a desta quinta são vistas nas igrejas como perseguição, “e isso só fortalece” o ex-presidente.
Uma pastora que se pronunciou a favor do investigado foi a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que integrou a Esplanada bolsonarista. Pela manhã, disse que “não há outro sentimento que não seja o de indignação” com os desdobramentos judiciais e pediu: “Que Deus tenha misericórdia do nosso país”.