O gerente do departamento tentou ganhar tempo conversando com os policiais, enquanto Martinho tentava escapar. Porém, sua tentativa foi em vão, pois uma moça que voltava de férias o chamou pelo seu nome, e os policiais o agarraram. Martinho foi então levado à força para uma viatura da GM, onde foi espancado antes mesmo de chegar ao seu destino, o DOI-CODI em São Paulo. No DOI-CODI, o primeiro a espancá-lo foi o famoso torturador Brilhante Ustra, que inclusive quebrou os seus dentes.
Assim como Martinho, outros trabalhadores da GM também foram perseguidos e torturados devido à cooperação ativa da empresa com o regime militar. Sebastião Penha Filho, ex-operário da unidade de São José dos Campos, chegou a pensar em cometer suicídio devido à pressão psicológica sofrida durante sua demissão. Além disso, seu nome foi incluído na infame “lista suja”, o que dificultava sua recolocação profissional. Já Assis Henrique de Oliveira, que foi demitido após uma greve em 1985, desapareceu três anos depois e até hoje não foi encontrado.
A GM tinha seu setor de segurança chefiado pelo coronel aposentado da Força Aérea Brasileira, Evaldo Herbert Sirin. Ele era um dos representantes da empresa nas reuniões do Cecose-VP, uma organização que trocava informações sobre lideranças e ativistas sindicais, além de monitorar os movimentos dos trabalhadores.
A prisão de Martinho Leal Campos dentro da GM demonstra claramente a cooperação existente entre a empresa e os órgãos de repressão durante a ditadura. A situação também foi verificada na Volkswagen do Brasil na mesma época, com a perseguição, tortura e prisão de trabalhadores.
Martinho sempre esteve ligado a partidos de esquerda e já havia sido preso em 1964. Ele escrevia e distribuía boletins, jornais e manifestos considerados subversivos pelos órgãos de repressão. Após ser solto em 1966, ele se estabeleceu em São Paulo, trabalhando no comércio e depois no ramo metalúrgico. Martinho participou ativamente do movimento sindical na região do ABC paulista, ao lado de outros operários históricos.
A prisão de Martinho Leal Campos é apenas mais um exemplo da repressão e perseguição política ocorridas durante o regime militar no Brasil. A cooperação da GM e de outras empresas com o regime é uma peça importante desse contexto, revelando a forma como a ditadura se infiltrou em várias esferas da sociedade. O caso de Martinho é apenas a ponta do iceberg, e muitos outros trabalhadores sofreram nas mãos dos agentes do regime. É essencial que essas histórias sejam contadas e que a memória das vítimas seja preservada.