O aplicativo First Mile, comercializado pela empresa Cognyte, subsidiária da israelense Verint, tem a capacidade de acessar a localização em tempo real de telefones celulares, bem como coletar metadados trocados entre os aparelhos e torres de telecomunicação. Além disso, é capaz de armazenar o histórico da geolocalização do aparelho e criar alertas sobre a presença do telefone móvel em uma determinada área.
Segundo a investigação da Polícia Federal, a ferramenta foi utilizada pela Abin mais de 60 mil vezes, 1,8 mil das quais para monitorar políticos, jornalistas, juízes e adversários do governo Bolsonaro. Além disso, uma operação autorizada pelo STF resultou em ações de busca e apreensão contra 12 alvos, incluindo o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-dirigente da Abin, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, e o militar Giancarlo Gomes Rodrigues.
A Polícia Federal investiga o que considera uma organização criminosa que fez uso do First Mile em benefício da família Bolsonaro, monitorando seus inimigos e políticos. A investigação também revelou que o Exército Brasileiro adquiriu o software First Mile, em um contrato no valor de 10,8 milhões de dólares, pago com parte dos recursos destinados à intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
No entanto, o Exército se recusou a fornecer informações sobre os períodos durante os quais teve acesso ao First Mile, bem como os motivos pelos quais respondeu negativamente aos questionamentos feitos anteriormente. A recusa em fornecer informações levanta questões sobre a conduta das autoridades. A legislação brasileira prevê responsabilidades para agentes públicos ou militares que recusam-se a fornecer informações solicitadas de forma intencional ou imprecisa.
Diante disso, a investigação da Polícia Federal continua a revelar lacunas no uso do software espião First Mile por órgãos do governo federal, levando a questões sobre abusos de poder e negligência institucional. As investigações devem se aprofundar para esclarecer os fatos e responsabilidades, garantindo transparência e responsabilidade no uso de ferramentas de vigilância e inteligência por parte do governo brasileiro.