Mais do que um grupo de extrema-direita de tendência populista e golpista, assim como a turma que esteve no poder entre 2019 e 2022, as investigações mostram que o governo Bolsonaro era uma organização criminosa que utilizava dessas tintas ideológicas para encobrir suas operações de roubo, contrabando e mutretas. Era a República da Muamba.
A palavra “muamba”, de origem africana, chegou finalmente ao primeiro escalão da vida nacional, se é que podemos chamar aquilo de primeiro escalão. O termo nasceu no quimbundo, língua da família banta falada em Angola, onde “muhamba” significava um cesto de hastes e folhas de palmeiras usado em viagens, carga ou carreto. Em Angola, também se refere a um ensopado feito com dendê.
No Brasil, o termo ganhou outros sentidos ao longo do tempo, como o furto de mercadorias armazenadas em portos, o comércio de produtos roubados e contrabandeados e até mesmo fraudes e golpes. Além disso, no Brasil, “muamba” também se tornou sinônimo de cachaça. A palavra gerou o termo “muambeiro”, que se refere a um contrabandista ou comerciante de mercadoria não declarada.
Apesar de toda essa carga cultural, a palavra “muamba” possui presença tímida em nossa literatura. É possível encontrá-la em obras de autores que exploraram a linguagem das ruas, como João Antônio e Rubem Fonseca. Fonseca utiliza o termo em seu conto “Botando pra quebrar”, do livro “Feliz Ano Novo”, para descrever um ex-presidiário que é convidado a realizar uma muamba na Bolívia.
Mesmo com a obsolescência do termo “muambeiro”, que vem sendo substituído por “sacoleiro” desde 1990, as recentes trapalhadas de Mauro Cid, assistente de ordens da República da Muamba, parecem ter revitalizado o termo e reafirmado sua relevância.
Portanto, as investigações da Polícia Federal estão revelando não apenas a indignidade e o alto número de mortes do governo Bolsonaro, mas também a existência de uma organização criminosa que utilizava de tintas ideológicas para encobrir seus esquemas de roubo, contrabando e mutretas. A República da Muamba é uma realidade que veio à tona e que nos mostra o quanto descemos enquanto nação.