Obra de arte gigante é apagada no centro de São Paulo, causando polêmica sobre o futuro da arte de rua.

Moradores da região central de São Paulo foram surpreendidos nesta terça-feira (28) com o apagamento parcial da figura gigante da mulher de punho erguido e envolta na bandeira da cidade que se tornou um símbolo recente do Carnaval de rua paulistano.

O painel, chamado “A Cidade é Nossa”, fica em um prédio da rua da Consolação, perto da praça Roosevelt. A obra de 1.500 m² foi pintada em 2017 pela artista Rita Wainer, sob encomenda do Acadêmicos do Baixo Augusta, um dos blocos que tem animado o carnaval de rua na capital paulista nos últimos cinco anos.

O edifício que abriga o mural pertence ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), que autorizou a obra. No entanto, a faixa de tinta branca apareceu sobre a lateral da pintura nesta terça, com a autorização da entidade, que informou que o imóvel está passando por “reformas estruturais necessárias”.

O mural se tornou ainda mais significativo por ter sido uma resposta à política de apagamento da arte de rua adotada no início da gestão de João Doria, que mandou apagar grafites em muros da avenida 23 de Maio em 2017. Esta decisão gerou uma série de críticas e uma multa à gestão municipal por dano ao patrimônio cultural.

Alê Youssef, gestor cultural e fundador do Baixo Augusta, afirmou que o mural “A Cidade é Nossa” representa a volta da arte urbana num momento em que ela estava na contramão, e também foi uma luta pelo direito à cidade. O ex-secretário de Cultura da gestão de Bruno Covas destacou que o carnaval de 2017 foi um marco com elementos de luta e representatividade.

Covas, que era vice de Doria, assumiu a prefeitura em 2018, mas faleceu em maio de 2021. Antes de sua morte, o parque Augusta teve seu nome alterado em homenagem ao político e foi inaugurado por seu sucessor, Ricardo Nunes. Procurada, a gestão Nunes informou que o painel está em área particular e que, portanto, não cabe à prefeitura interferir na decisão do proprietário.

O Cremesp afirmou que o prazo da concessão do painel para a intervenção artística expirou, mas Youssef discordou da afirmação, pois o projeto MAR, que alegaram estar relacionado à obra, só surgiu anos após a instalação do mural.

A artista Rita Wainer destacou a importância do mural como um ato emblemático para ela, como artista mulher, e afirmou que representa a força feminina e o protagonismo da mulher em todas as áreas. Tanto ela quanto Alê Youssef afirmaram que não foram procurados pelos proprietários do imóvel para discutir possibilidades de restauro do painel.

Portanto, a polêmica em torno do apagamento parcial do mural “A Cidade é Nossa” demonstra um embate entre a política cultural e o direito à cidade, além de refletir a importância e o significado da arte urbana para a sociedade.

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