O som do Universo primordial: cientistas buscam ecos das primeiras ondas sonoras em novo projeto de radiotelescópio.

Há bilhões de anos atrás, antes mesmo do surgimento das estrelas, dos planetas e até mesmo dos primeiros átomos, o Universo já era preenchido por algo surpreendente: o som. Esse zumbido primordial viajava a mais da metade da velocidade da luz, atravessando um plasma superaquecido de partículas carregadas eletricamente. Essas ondas sonoras eram resultado de uma batalha entre as forças fundamentais do Universo, que geravam oscilações no plasma.

Quando o Universo tinha apenas algumas centenas de milhares de anos, o plasma desapareceu e o Universo caiu em um silêncio profundo. No entanto, ainda é possível captar os ecos dessas ondas sonoras que se espalharam pelo Universo primordial. Elas deixaram uma marca permanente na distribuição de matéria e fornecem aos astrônomos informações cruciais sobre a energia escura, um dos maiores mistérios do nosso Universo.

Essas ondas sonoras primordiais, também conhecidas como oscilações acústicas de bárions (BAOs), foram formadas quando as partículas do Universo inicial começaram a se reunir sob a influência da gravidade. A força gravitacional da matéria escura criou “poços de potencial” que atraíam o plasma para o seu interior. No entanto, o plasma era tão quente que os fótons criavam pressão de radiação que lutava contra a gravidade, resultando em oscilações acústicas.

Essas oscilações formaram esferas concêntricas de energia sonora em expansão, que moldaram o plasma em padrões complexos e deslumbrantes. Se houvesse seres humanos vivendo naquela época, eles não teriam ouvido esses sons, pois eles estavam em uma frequência muito baixa e seus comprimentos de onda eram gigantescos. No entanto, o registro desses sons pode ser encontrado na radiação cósmica de fundo em micro-ondas e na estrutura do Universo em larga escala.

O Telescópio Espacial Planck, da Agência Espacial Europeia, conseguiu captar ecos dessas ondas sonoras primordiais e traduzi-las em frequências audíveis. O zumbido resultante é composto por um tom baixo com sobretons mais altos. Esses sons proporcionam aos cientistas um registro fóssil dos primeiros sons do cosmos, permitindo que estudem a energia escura e como ela afetou a evolução do Universo ao longo do tempo.

Um novo projeto de radiotelescópio internacional chamado Bingo, em construção na Paraíba, também busca estudar os ecos modernos dessas ondas sonoras primordiais. Através da análise dos dados coletados pelo Bingo, os cientistas esperam obter uma compreensão mais profunda de como a energia escura afetou os padrões de oscilações acústicas de bárions. Essas assinaturas também servem como padrões para medir a história do Universo e os efeitos da energia escura.

Ao explorar o Universo em busca desses “registros fósseis” dos primeiros sons do cosmos, os astrônomos estão cada vez mais perto de desvendar os mistérios da energia escura e entender a evolução do Universo em escalas de tempo cósmicas. Os estudos realizados pelo radiotelescópio Bingo e outros experimentos similares fornecerão informações valiosas sobre a história e o funcionamento do nosso vasto e misterioso Universo.

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