Os dados mostram ainda que o número total de migrantes detidos na fronteira no mês passou de 177 mil, o que representa um aumento de mais de 30% em relação a julho, que teve 132,6 mil detidos. Estes, por sua vez, representavam também outro aumento de cerca de 30% na comparação com junho, quando 99,5 mil buscaram essa rota e foram barrados pelas autoridades e patrulhas de fronteira.
Pessoas acompanhadas da família também se transformaram no grupo mais apreendido, superando pela primeira os adultos sozinhos desde o início do governo de Joe Biden. O democrata fez campanha e assumiu a Casa Branca prometendo uma abordagem mais humana no que se refere à imigração; na prática, porém, manteve vigentes algumas regras impostas por Trump, seu antecessor e adversário.
Durante a pandemia de Covid-19, a gestão do republicano criou o chamado Título 42, que permitia a expulsão de migrantes antes que eles pudessem pedir asilo, sob o argumento de que a entrada dessas pessoas seriam um risco sanitário ao país.
A regra foi derrubada em maio deste ano —não sem resistência de estados majoritariamente republicanos, que buscaram a Justiça contra o fim da regulação—, mas a gestão Biden criou novas normas que têm como objetivo dificultar o ingresso de pessoas em situação irregular.
Segundo a regra em vigor, todo imigrante que tenta entrar de forma irregular no país —ou seja, sem a documentação necessária e fora das rotas e canais oficiais disponíveis para dar entrada com o pedido de ingresso— é considerado automaticamente como inelegível para concessão de asilo. O imigrante nessas condições também precisa provar que tentou obter asilo em outro país e teve esses pedidos negados antes de cruzar a fronteira americana.
De acordo com Erin Heeter, uma porta-voz do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, o governo tenta desacelerar o fluxo de entradas ditas ilegais e endurece penalidades enquanto expande opções aceitas pela Justiça. “Todo ano, porém, os EUA veem fluxos e refluxos sazonais de imigrantes e traficantes de pessoas que usam a desinformação para encorajar o movimento pela fronteira”, diz Heeter.
A porta-voz também afirma que o governo aumentou o número de voos para deportar famílias em agosto, acrescentando que, desde maio, repatriou mais de 17 mil pais e filhos que cruzaram a fronteira em um grupo familiar.
A questão tem sido um elemento central das campanhas eleitorais ao menos desde que Trump concorreu ao cargo com bravatas como a de que construiria um muro na fronteira, algo que tem forte apelo principalmente junto ao eleitorado republicano.
“Quando Biden chegou e eliminou todas as políticas de Trump e estendeu um tapete de boas-vindas para o mundo todo dizendo que a fronteira está aberta, subitamente começou o caos”, disse o governador do Texas, o republicano Greg Abbott, em meio a grande aumento nos últimos anos do fluxo de migrantes.
O primeiro debate pela indicação do Partido Republicano à vaga na disputa presidencial contra Joe Biden —Trump não compareceu— evidencia a relevância e ao mesmo tempo a solidez do tema entre republicanos. O endurecimento das políticas migratórias foi unanimidade entre os pré-candidatos. Vivek Ramaswany, ele mesmo filho de imigrantes indianos e destaque do debate, tem como um dos lemas de campanha a frase “uma fronteira aberta não é uma fronteira”.