O impacto do racismo na aprendizagem: como a educação pode mitigar os efeitos perversos sobre crianças e jovens

Recentes pesquisas realizadas pela Universidade de Northwestern (EUA) têm revelado informações preocupantes sobre o impacto do racismo na aprendizagem dos estudantes brasileiros. A discriminação racial, que é comum desde a infância, tem sido apontada como um fator que afeta diretamente o potencial cognitivo das crianças e jovens, além de causar efeitos biológicos e psicológicos negativos.

Segundo estudos do laboratório de pesquisa COAST da Universidade de Northwestern, o estresse proveniente das experiências de injustiça étnico-racial, somado à ansiedade de performar bem para superar as baixas expectativas da sociedade em relação à população negra, tem impactos diretos na regulação biológica, agravando o padrão de sono e prejudicando processos cognitivos como a atenção, memória e motivação. Além disso, adolescentes são particularmente afetados, devido à alta plasticidade cerebral e à formação identitária que ocorre nessa fase da vida.

No entanto, o estudo também aponta que a educação pode atuar como um fator de mitigação desses impactos negativos. De acordo com pesquisas desenvolvidas nos Estados Unidos, uma educação de qualidade focada na equidade étnico-racial pode reduzir os efeitos nocivos da discriminação sobre processos biológicos, psicológicos e cognitivos. Isso inclui currículos e projetos pedagógicos que valorizam a história e cultura de grupos étnico-raciais marginalizados, aulas que discutem sistemas de poder que reproduzem desigualdades e a formação de professores preparados para desafiar perspectivas de déficit em relação a estudantes vulneráveis.

Além disso, é importante considerar a interseccionalidade das desigualdades, que se relaciona à interação entre diversos marcadores sociais que formam um indivíduo, como raça, região, situação socioeconômica e gênero. Estudos mostram que meninas e meninos negros respondem de maneira diferente a experiências de discriminação racial na escola, o que ressalta a importância de projetos educacionais comprometidos com a redução das desigualdades étnico-raciais levarem em conta a intersecção com outras categorias sociais.

Embora o Brasil já tenha iniciativas promissoras nesse sentido, ainda há a necessidade de políticas públicas na educação básica com abordagem interseccional. O Ministério da Educação lançou recentemente um pacote de medidas para equidade racial, incluindo programas de formação de professores na educação básica, mas é preciso investir na difusão em escala de práticas interseccionais. A educação brasileira será mais eficaz na proteção contra os efeitos da discriminação racial à medida que avançar em políticas públicas que considerem a convergência estrutural entre sistemas de privilégio e poder.

Diante desse cenário, é necessário um compromisso e investimento contínuo para garantir que a educação no Brasil seja verdadeiramente inclusiva e equitativa para todos os estudantes, independentemente de sua origem étnico-racial. A música sugerida pela autora do texto, “Tereza de Benguela”, de Mestre Barrão, remonta à resistência e luta do povo negro, ressaltando a importância de preservar a cultura e história afro-brasileira no ambiente educacional.

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