Entretanto, a empreitada no Congo foi marcada por diversos desafios que culminaram no insucesso do projeto. Guevara e seus homens se depararam com a insatisfação e deserção dos congoleses durante os combates, além das dificuldades de adaptação ao cotidiano guerrilheiro. Em uma carta a Fidel Castro, Guevara admitiu sua desilusão diante da situação existente e afirmou que, se não fosse por ele, o sonho da revolução estaria desintegrado.
Apesar dos obstáculos enfrentados no Congo, o projeto de Guevara não foi abandonado. O livro “Guerra de Guerrilhas” se tornou um manual para insurgentes de todo o mundo, ajudando a disseminar a ideia de que as contradições do capitalismo na América Latina eram tão profundas que uma convulsão social era inevitável. A revolução na região deveria se expandir a partir das fronteiras bolivianas para o Brasil, Argentina e Peru, conforme os planos de contrainsurgência dos Estados Unidos.
No entanto, o isolamento político, social e militar dos guerrilheiros na Bolívia prejudicou a concretização desse projeto. O acampamento central foi descoberto e invadido, Guevara perdeu contato com sua coluna e também com Cuba, e as organizações nacionais de esquerda que poderiam apoiar a luta não se engajaram no projeto. O Partido Comunista da Bolívia e o Partido Comunista Marxista-Leninista não tiveram participação direta na empreitada, destacando as divergências entre os pró-soviéticos e os pró-cubanos.
Como resultado, as tropas de Guevara não resistiram à pressão inimiga e o líder revolucionário foi capturado e executado em 9 de outubro de 1967. No entanto, seu nome continuou vivo e inspirando gerações. Além da influência óbvia dentro do campo das esquerdas, a imagem de Guevara foi “canonizada” pelos habitantes da região onde foi aprisionado, sendo eternizado como Santo Ernesto de la Higuera.
Para narrar esses eventos e contextualizá-los na realidade boliviana e nos planos de contrainsurgência dos Estados Unidos, os historiadores Paco Ignacio Taibo II e Luiz Bernardo Pericás utilizam um vasto acervo documental. Além dos diários dos guerrilheiros, eles também se apoiam em cartas, comunicados, discursos governamentais e documentos oficiais de diferentes fontes. Essa contribuição é valiosa para pesquisas sobre Guevara e esse episódio crucial de sua trajetória revolucionária.