O fim da democracia liberal capitalista: reflexões sobre a crise iminente e possíveis alternativas para o futuro.

O desmoronamento do Bloco Soviético

Com o desmoronamento do bloco soviético nos anos 1990, a vitória da democracia liberal capitalista parecia inevitável. A década anterior, marcada pela afirmação dos Estados Unidos como a única superpotência mundial, viu a União Soviética se desmanchar dentro da “cortina de ferro”, o que resultou na maioria dos estados-membros do Pacto de Varsóvia se unindo ao lado do ocidente capitalista. O colapso da União Soviética, em 25 de dezembro de 1991, marcou o fim da evolução sociocultural da humanidade, na visão de

Francis Fukuyama. Porém, na mesma época, o intelectual alemão Robert Kurz alertou para a crise iminente da economia mundial, colocando em xeque as pretensões de vitória da democracia liberal.

Kurz apontou que a crise da modernização surgia do desencontro entre Oriente e Ocidente, que esperavam resultados que não se concretizavam. Para ele, a crise decorria da incapacidade da economia de realizar novas acumulações primitivas e se integrar globalmente. Ele argumentou que o desenvolvimento científico exacerbado promoveu a exclusão do trabalho como “mais-valia” do desenvolvimento e da produtividade, gerando uma crise do capitalismo liberal.

Desde a Revolução Industrial, o capitalismo e as democracias liberais se transformaram inúmeras vezes, arrastando as massas de todas as partes do globo. No entanto, essa expansão levou às crises constantes do terceiro mundo e à exclusão do trabalho como força produtiva. A crítica de Kurz expõe a falência do modelo econômico e político das democracias liberais.

Outro intelectual de peso, Jacques Rancière, propôs uma nova visão sobre a democracia, analisando a relação entre ódio à democracia e o atual cenário de crise. Segundo Rancière, a democracia é incapaz de representar um bom governo, promovendo uma política dos poucos e excluindo a participação do restante da população nos assuntos da nação.

Diante do fim iminente da democracia liberal capitalista, resta a alternativa de uma nova forma de governança que ultrapasse os dogmas mercadológicos. Uma participação popular ampliada, por meio de tecnologias como a “ágora virtual”, pode ser essencial para resgatar a participação popular e estabelecer plebiscitos virtuais periódicos para deliberar os assuntos da cidade.

Ainda que o cenário seja desolador, a crítica dos pensadores contemporâneos expõe as contradições do modelo liberal e aponta para a necessidade de uma reconfiguração do sistema democrático e econômico.

Por André Márcio Neves Soares, doutorando em Políticas Sociais e Cidadania.

As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.

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