Ernaux, conhecida por sua literatura autossociobiográfica, mescla habilmente aspectos da vida pessoal com questões sociais e políticas. Ao observar o comportamento humano, a solidão, a vida moderna e o consumo dentro de um supermercado, a autora consegue tecer reflexões profundas sobre a sociedade contemporânea.
Para Ernaux, a rotina de compras em um hipermercado pode revelar muito sobre a evolução da história e da economia, sendo um reflexo da cultura de consumo e do capitalismo neoliberal. Ela critica a segregação de brinquedos por gênero e a pressão da economia liberal para que se compre cada vez mais, inclusive em nome do amor às crianças.
Observando pequenos detalhes, como um casal indeciso na seção de queijos ou a atitude de uma avó diante das demandas de sua neta, Ernaux oferece insights fascinantes sobre as relações humanas e a dinâmica social. Ela também denuncia as estratégias de manipulação capitalista presentes nos supermercados, evidenciando como a pobreza e a desigualdade são naturalizadas na sociedade.
Ao frequentar esses espaços comuns, Ernaux experimenta uma sensação de pertencimento, mas também de humilhação diante das mercadorias caras. Ela se recusa a aderir ao cartão fidelidade e critica a abordagem possessiva de alguns estabelecimentos, reafirmando sua independência e resistência ao sistema.
Em suma, “Olhe as Luzes, Meu Amor” é uma obra intrigante que convida o leitor a refletir sobre a sociedade de consumo e as complexidades das relações humanas, através de uma escrita provocativa e perspicaz. Annie Ernaux mais uma vez mostra sua genialidade ao transformar o cotidiano em matéria-prima para uma obra literária impactante.