A Covid-19 trouxe consigo a criação de fronteiras temporárias, como as que impediam as pessoas de entrar ou sair das vastas metrópoles chinesas. A pandemia também questionou a premissa de que a globalização era irreversível, mostrando que a desglobalização estava pronta para entrar em erupção com os choques do Brexit, Trump, guerra na Ucrânia e a “dissociação” norte-americana da China. As fronteiras, que aparentemente estavam se dissipando com a globalização, ressurgiram na forma de muralhas, trazendo de volta uma das formas mais antigas e míticas de barreiras.
Ao longo das décadas, diversas fronteiras físicas foram erguidas, desde muros em terras disputadas na Coreia e Caxemira, até barreiras marítimas para impedir a migração de pessoas. A globalização, ao invés de eliminar essas barreiras, acabou por incentivar a construção de mais muros ao redor do mundo. Países como Israel demonstraram um nível de sofisticação na construção de barreiras, como o muro de 730 km que separa os assentamentos judeus das terras palestinas, e a engenhosidade envolvida na criação de estradas e túneis que permitem a interação entre israelenses e palestinos sem comprometer o isolamento.
O jornalista Marco D’Eramo destaca a perversão intelectual por trás dessas construções fronteiriças e questiona o ato de cercar um pedaço de terra como uma forma de marcar território e impor divisões. Ele cita a reação de Rousseau a esse ato fundador, chamando atenção para o impacto negativo que as fronteiras têm na humanidade.
A evolução das fronteiras ao longo da história e os desafios apresentados pelas novas formas de barreiras físicas e políticas revelam como a questão das fronteiras está longe de ser resolvida e continua a ser um tema complexo e controverso na geopolítica global.