Repórter São Paulo – SP – Brasil

Mudanças climáticas obrigam vinícolas e olivícolas de Mendoza a se adaptarem para preservar a produção

A região de Mendoza, na Argentina, conhecida como a capital do vinho e do azeite, está lidando diretamente com as consequências das mudanças climáticas. A cidade, situada em um deserto aos pés da Cordilheira dos Andes, há anos enfrenta a escassez de água devido ao derretimento reduzido da neve nas montanhas. A falta de água afeta a capacidade de abastecimento da população, bem como a irrigação das plantações de vinho e azeite, causando impacto nas vinícolas e olivícolas da região.

Para se adaptar a essa nova realidade, os produtores têm adotado medidas como adiantar as colheitas, plantar em áreas mais altas e diversificar as uvas para garantir a qualidade das bebidas. Além disso, tem havido investimentos em sistemas de irrigação por gotejamento e na impermeabilização dos canais de água, a fim de evitar perdas. Essas medidas visam a garantir que a água seja utilizada de forma mais eficiente, especialmente porque cada taça de vinho consome cerca de 120 litros de água.

Um exemplo dessa adaptação pode ser visto na vinícola Catena Zapata, eleita a melhor do mundo recentemente. Localizada no Vale do Uco, a vinícola plantou em uma área a 1.500 metros de altura para aproveitar um clima mais ameno. O enólogo Alejandro Vigil destaca que, nas últimas três décadas, o ciclo de colheita antecipou em cerca de 15 dias devido às mudanças climáticas.

Além disso, a altura proporcionou um clima mais moderado, atendendo também à demanda do mercado por vinhos mais frescos e ácidos, em detrimento dos vinhos mais fortes. No entanto, embora a produção argentina ainda não esteja tão afetada quanto a europeia, os produtores reconhecem que a região está chegando ao limite, uma vez que a redução da neve afeta diretamente o abastecimento de água.

Outro desafio enfrentado pelos produtores é a ocorrência de geadas fora de época, que podem congelar as uvas e causar danos às videiras. Algumas vinícolas têm adotado medidas para evitar esse problema, como a construção de fogueiras ou o uso de malhas sobre as plantas, que são gotejadas com água para criar uma camada de proteção contra o frio.

Diante desse cenário, os produtores de vinho e azeite estão buscando novas formas de adaptação, como o cultivo de outras plantas em conjunto e a identificação das uvas que melhor se adaptam a cada local. Para eles, é fundamental compreender a natureza como um todo e se adaptar às constantes mudanças climáticas.

Embora os últimos meses tenham trazido alguma melhoria devido ao fenômeno El Niño, que aumentou a quantidade de neve nas cordilheiras e garantiu o abastecimento de água para o próximo verão, os especialistas afirmam que ainda é necessário trabalhar com a perspectiva de que a seca e os eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes. A região de Mendoza precisa continuar se adaptando e encontrando soluções sustentáveis para lidar com os desafios impostos pelas mudanças climáticas.

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