Repórter São Paulo – SP – Brasil

Morte do ex-premiê chinês Li Keqiang simboliza o fim de uma era e revela rachas políticos no Partido Comunista

O falecimento repentino do ex-premiê chinês Li Keqiang, ocorrido na madrugada desta sexta-feira em Xangai, além de surpreendente, representa o encerramento de uma era na China. Li, que até pouco tempo atrás era considerado uma opção viável para a sucessão de Hu Jintao, é visto como um líder moderado e reformista, características que o colocaram em conflito com seu colega Xi Jinping.

Formado pela Universidade de Pequim, conhecida por seu progressismo, Li foi um exemplo do Partido Comunista pós-Deng Xiaoping e sua política de reabertura. Ele ganhou fama como um oficial diligente e economista habilidoso, sendo amplamente reconhecido por sua precisão na avaliação da saúde econômica do país. Suas observações sobre o volume de carga ferroviária, consumo de eletricidade e empréstimos bancários se tornaram conhecidas como “índice Keqiang” e passaram a ser utilizadas por diplomatas, empresários e jornalistas em todo o mundo.

No entanto, seu perfil pragmático e focado em reformas econômicas o colocou em rota de colisão com Xi Jinping, que prioriza controle ideológico e segurança nacional. Ao longo dos piores momentos da pandemia de Covid-19, Li e Xi travaram uma guerra silenciosa, com o ex-premiê alertando para os riscos da política de Covid zero, mas sendo desautorizado pelo líder chinês.

Com a reeleição de Xi para um terceiro mandato, ele consolidou seu poder e restringiu a influência de membros da Liga da Juventude, a facção à qual Li pertencia. Ao se aposentar, Li perdeu a influência que seus antecessores costumavam manter mesmo após deixar o cargo.

Embora a morte de Li não represente uma ameaça direta a Xi Jinping e aos seus aliados, impulsiona um contraste entre os dois líderes e dá voz aos descontentes com o governo. Nos últimos meses, Xi demoveu seu chanceler e ministro da Defesa, sua política econômica não surte efeito, o desemprego juvenil aumenta e a deflação se torna uma realidade na China. Embora seja cedo para decretar o fim do “milagre chinês”, é possível atribuir a Xi a responsabilidade pelas escolhas pouco ortodoxas que afetam a conjuntura doméstica e internacional do país.

O risco de uso político da morte de Li Keqiang não pode ser subestimado e certamente preocupa o Partido Comunista Chinês. A morte de líderes comunistas populares no passado resultou em agitações e protestos, o que pode se repetir agora. A reação dos internautas ao falecimento de Li, republicando uma música da cantora malaia Fish Leong, já foi censurada nas redes sociais chinesas.

Em resumo, a morte de Li Keqiang marca o fim de uma era na China e destaca a diferença de posicionamentos entre ele e Xi Jinping. O contraste entre os dois líderes reflete as insatisfações existentes com o governo e abre espaço para uma reflexão sobre os rumos do país nos próximos anos.

Sair da versão mobile