A privatização de empresas estatais é um tema polêmico e que gera grandes debates e controvérsias. Esse fenômeno tem sido alvo de muitos estudos, que buscam entender as motivações por trás das iniciativas de venda de empresas públicas para o setor privado. De acordo com uma pesquisa recente, a explicação para esse fenômeno parece óbvia: as empresas privadas cobram valores altos para prestar um serviço de qualidade inferior, visando lucrar ainda mais.
Entretanto, o curioso é que os conselhos econômicos do capital financeiro para a América Latina são diferentes. A International Finance Corporation (IFC), instituição ligada ao Banco Mundial, recomendou a privatização da SABESP, empresa estatal responsável pelo saneamento básico de São Paulo. O estudo encomendado pelo governador Tarcísio de Freitas custou aos cofres públicos a bagatela de R$ 45,6 milhões.
Apesar disso, a população se mostra contrária à venda do patrimônio público, visto que acredita que o lucro sempre vai falar mais alto. Um plebiscito popular organizado por sindicatos e movimentos sociais revelou que 97% das 900 mil pessoas que participaram são contrárias à privatização da SABESP e dos serviços de transporte sobre trilhos, Metrô e CPTM.
A resistência à privatização se reflete também na atuação política. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva revogou as privatizações em curso, como Correios e Petrobrás, no início de seu mandato. Por outro lado, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), expressou uma certa timidez ao falar sobre o caso da ENEL, destacando a necessidade de punir a empresa e adotar um modelo de parcerias baseado na qualidade dos serviços prestados.
A tramitação em regime de urgência da venda da SABESP, que revela a subordinação da Assembleia Legislativa aos interesses do governador Tarcísio, tem levado a população a acreditar que a mobilização popular é a única forma de reverter o projeto privatista.
Nesse cenário, as categorias afetadas pelas privatizações têm demonstrado a sua força, como a greve unificada que parou a região metropolitana de São Paulo, no dia 3 de outubro. Apesar das ameaças, demissões e retaliações, os trabalhadores preparam uma greve ainda maior para o dia 28 de novembro, contando com apoio de outras categorias do serviço público.
Inspirados em exemplos de vitória, como a greve dos operários que reverta 1244 demissões nas fábricas da General Motors, a união e a força desses trabalhadores são a última esperança para travar o avanço do projeto privatista em curso. A resistência contra as privatizações mostra que o interesse popular está em pauta, e que a luta entre lucro empresarial e interesse público está longe de acabar.