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José Revueltas: Contribuições ao marxismo e sua reflexão sobre a história do México

José Revueltas, um dos principais intelectuais marxistas do México no século XX, contribuiu significativamente para o pensamento marxista tanto como ensaísta quanto como artista. Sua trajetória o colocou em contato com diferentes correntes e momentos do marxismo, levando-o a questionar e refletir sobre novas perspectivas teóricas.

Na primeira metade do século XX, Revueltas fez parte da chamada primeira geração do marxismo mexicano, que tinha como referência política a Revolução Russa e adotava o marxismo da Internacional Comunista. Essa geração via o modelo soviético como um caminho desejável para superar o capitalismo e a condição semicolonial do país. Revueltas traduziu obras de Marx e outros clássicos da filosofia e das ciências humanas, oferecendo uma interpretação da história recente do México a partir dos princípios do materialismo histórico.

No entanto, a geração seguinte, à qual Revueltas pertencia, acabou se afastando do stalinismo e adotando a Revolução Cubana como nova referência. O anti-imperialismo se tornou uma linha guia para muitas das posições adotadas por essa nova geração de marxistas mexicanos.

Revueltas se destacou como um intelectual orgânico, sendo membro do Partido Comunista do México e do Partido Popular, além de fundar a Liga Leninista Espartaco. Suas contribuições teóricas para o marxismo podem ser estudadas em duas dimensões: como ensaísta, intervindo em manifestações e debates, e como artista, produzindo obras de literatura e teatro. O que caracteriza tanto seus ensaios quanto suas obras literárias é o questionamento dos postulados da Internacional Comunista, criticando temas como obediência partidária, sectarismo e práxis revolucionária.

Um dos principais conceitos que Revueltas incorporou em seu pensamento foi o de alienação, desenvolvido a partir da leitura dos “Manuscritos econômico-filosóficos” de Marx. Ele retomou esse tema várias vezes em seus textos, não apenas para debater teoricamente, mas também para discutir a Revolução Mexicana e o surgimento da ideologia democrático-burguesa no país. Suas reflexões resultaram na tese da “inexistência histórica” do Partido Comunista Mexicano, argumentando que o partido não conseguiu organizar as massas operárias para se tornarem um corpo revolucionário organizado.

Além disso, Revueltas também estabeleceu diálogos com o existencialismo, buscando assimilar essa corrente filosófica ao marxismo. Em suas obras literárias, ele criou personagens que enfrentam as encruzilhadas da vida e tomam decisões existenciais angustiantes.

Revueltas realizou sínteses importantes sobre a história do México e a organização da classe trabalhadora, utilizando conceitos e categorias marxistas. Apesar de suas contribuições teóricas terem sido significativas, sua influência se estendeu além de seus textos teóricos, alcançando suas obras literárias. Por exemplo, seu livro “Los errores”, publicado em 1964, gerou polêmica ao expor suas posições como marxista e criticar o legado de Stálin.

José Revueltas deixou um legado importante para as gerações seguintes de marxistas no México, estabelecendo uma reflexão crítica sobre o marxismo e combatendo quaisquer tentativas de engessamento da teoria. Sua obra mostrou que o marxismo não é apenas uma filosofia revolucionária e transformadora, mas também uma ferramenta para questionar os equívocos e abusos cometidos em seu nome.

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