Jornalista colombiana enfrenta ameaças e editora recua ao publicar livro sobre clã familiar acusado de corrupção

A jornalista Laura Ardila é reconhecida por seu trabalho valente e investigativo na costa da Colômbia. Ao longo de sua carreira, ela se dedicou a denunciar casos de política e corrupção na região caribenha do país, tendo trabalhado em veículos renomados como o jornal El Espectador e o portal Silla Vacía.

Com seu profundo conhecimento dos bastidores e intrigas do cenário regional, Laura propôs à editora Planeta a elaboração de um livro que revelasse a história de corrupção e fraudes protagonizadas pela família Char. Trata-se de um poderoso clã local, descendente de imigrantes sírio-libaneses que chegaram à Colômbia nos séculos 19 e 20, e que construíram uma fortuna por meio de diversos negócios, incluindo lojas e estações de rádio.

Os integrantes da família Char logo alçaram cargos políticos, com o patriarca Fuad Char ocupando atualmente uma cadeira no senado, e vários de seus filhos assumindo postos na administração pública. Enquanto Alex Char, atual prefeito de Barranquilla, busca a reeleição mesmo respondendo a processos de corrupção, seu irmão Arturo Char já foi condenado e está preso. Além disso, a maioria dos mais de dez membros do clã enfrenta processos judiciais.

Todo esse conteúdo estava presente no livro intitulado “La Cosa Nostra”, que Laura estava prestes a lançar pela editora Planeta. No entanto, tanto a jornalista quanto a editora começaram a receber ameaças de morte, o que levou a editora a mudar subitamente de ideia e cancelar a publicação, alegando temer processos e receio diante do poder da família Char.

É importante ressaltar que esse contexto se encaixa perfeitamente no cenário das prévias das eleições regionais para governadores e prefeitos, que estão marcadas para o dia 29 de outubro. Nesse período, os colombianos voltam sua atenção para o poder regional, pois são os governadores e prefeitos que podem resolver questões cotidianas e para quem a população pode levar suas reclamações.

No entanto, essas eleições também revelam o poder dos clãs familiares regionais, que teriam um histórico de voltar ao poder mesmo com acusações judiciais. Um exemplo disso é a família Gnecco, que domina o departamento de Cesar há décadas e é comandada pela matriarca Cielo Gnecco. Ela espera eleger um de seus filhos, Popo Barros, e expandir seu poder para o departamento de Sucre através da eleição de outro filho.

De acordo com a fundação Pares, há 294 políticos registrados para as eleições regionais, sendo que 88 deles têm processos por corrupção em andamento. E vale ressaltar que 43% desses candidatos com envolvimento com a Justiça pertencem a clãs familiares.

Apesar dos obstáculos, é positivo destacar que o livro de Laura Ardila será lançado pela editora Rey Naranjo, uma editora independente que assumiu a tarefa e o desafio de publicá-lo. Isso mostra que o jornalismo profissional ainda conta com defensores determinados a expor a verdade e combater a corrupção.

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