Em cada conto, Cecília revela uma paisagem encantadora, por vezes fantástica, que nos leva a refletir sobre a realidade que nos cerca. A ilustração de Beatriz Garcia na capa do livro desperta curiosidade sobre o bicho desconhecido que nos olha nos olhos, nos convidando a desbravar as páginas que se seguem.
A escrita de Cecília é cativante e envolvente, construindo um tecido delicado de palavras que nos transporta para um universo de sensações. As palavras ganham vida e se transformam, moldando-se de acordo com o que é necessário para sobreviver e existir.
Apesar de tratar de temas como vida e morte, o livro não se propõe a ser uma obra sobre luto ou morte. É, acima de tudo, sobre a vida, sobre a gênese dessa existência que carrega consigo fragmentos generosos de morte. A autora explora o ciclo inevitável da vida, fazendo-nos refletir sobre a importância de trazer a morte para o dia a dia, sem medo ou tabu.
Em um dos contos, intitulado “Cerol na Galinha”, Cecília denuncia a violência presente nas periferias e favelas do Brasil, utilizando a morte como metáfora para a liberdade e a resistência. A escritora constrói uma narrativa poderosa, sem pretensões, que nos faz refletir sobre o papel do jornalismo em retratar a realidade sem sensacionalismo.
O livro Jiboia é uma obra que nasceu da amizade e da confiança literária entre Cecília Garcia e a ilustradora Beatriz Garcia. Com um processo de escrita solitário, Cecília encontrou conforto em saber que sua amiga estava caminhando ao seu lado, em uma rua paralela. Os medos compartilhados se transformaram em histórias e sonhos concretizados em um livro.
Em uma entrevista, Cecília explica que a escrita tem sido parte essencial de sua vida desde muito jovem. Escrever para ela é uma forma de habitar o mundo, de respirar e organizar seus sentimentos. Apesar de não ser algo fácil ou prazeroso, ela continua a escrever, pois é uma atividade que a move e a faz sentir viva.
A finitude é um tema presente em Jiboia, não apenas a finitude das pessoas, mas também de situações, lugares e do próprio mundo. Cecília aborda o fim como parte do ciclo da vida, trazendo apocalipses e renascimentos em suas narrativas. A autora acredita que é importante encarar a finitude de forma presente, como uma revolução, e trazer essas reflexões para o dia a dia.
Jiboia é um livro emocionante, que nos leva a mergulhar em um universo de possibilidades. Cecília Garcia nos presenteia com uma escrita sensível e poética, que nos faz refletir sobre a vida e a morte, sobre as pequenas e as grandes revoluções que acontecem a nossa volta. É uma obra que definitivamente vale a pena conhecer e apreciar.