Indígenas realizam entrevista coletiva para debater repatriação do manto tupinambá e criticam postura colonizadora do Estado brasileiro.

No primeiro dia de programação da cerimônia de recepção do manto tupinambá, as lideranças indígenas marcaram presença com uma entrevista coletiva no Circo Marcos Frota, localizado no Rio de Janeiro, onde estão acampados para a ocasião. Neste encontro com a imprensa, a anciã Yakuy Tupinambá, de 63 anos, leu um manifesto redigido por indígenas de 23 comunidades da Bahia. O manifesto em questão criticava os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em relação à falta de transparência no processo de repatriação e acesso ao manto, além de abordar questões sobre demarcação de terras e a tese do marco temporal.

Durante a coletiva, os indígenas também destacaram o acordo definido no grupo de trabalho pela repatriação do manto. A chegada da peça, que deveria ter sido recebida com uma cerimônia no aeroporto, ocorreu de forma sigilosa no início de junho, o que gerou um conflito com a administração do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

A administração do museu negou qualquer conflito com os indígenas, mas um vídeo publicado pelo Conselho Indígena do Povo Tupinambá de Olivença (Cito) mostrou um desentendimento entre o diretor da instituição e os caciques durante uma reunião na Bahia. Os indígenas lamentaram não ter tido a oportunidade de receber o manto sagrado com os ritos honrosos merecidos, enfatizando a importância espiritual e cultural da peça para o seu povo.

Fora do Circo Marcos Frota, os indígenas se preparavam com cânticos e pinturas para a vigília que seguirá até quinta-feira, quando está prevista a cerimônia oficial do manto com a presença de autoridades, incluindo a ministra do Povos Indígenas, Sônia Guajajara. Além disso, cerca de 200 indígenas de três etnias diferentes chegaram ao Rio para celebrar a chegada do manto, participando de um cortejo em protesto por demarcação de terra.

O manto tupinambá, considerado uma entidade sagrada, foi levado à Europa por holandeses por volta de 1644 e é confeccionado principalmente com penas de guarás, além de outras plumas. A peça foi doada pelo Museu Nacional da Dinamarca e, embora existam outros exemplares espalhados pelo mundo, esta é a primeira vez que um manto desse tipo fará parte do acervo de um museu brasileiro.

Todo esse cenário envolvendo a recepção do manto tupinambá tem gerado discussões e reflexões sobre a preservação da cultura indígena e a importância de reconhecer e respeitar os direitos dos povos originários. A chegada dessa peça histórica ao Brasil representa não apenas um marco cultural, mas também uma oportunidade de valorização e dignificação dos povos indígenas.

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