Repórter São Paulo – SP – Brasil

Indígenas atacados por milícias armadas no Paraná pedem ajuda ao governo para garantir segurança na região Tekoha Guasu Guavirá.

Indígenas do povo avá-guarani, residentes na região de Guaíra, no Paraná, denunciaram recentemente ataques sofridos às vésperas do Natal. Os relatos incluem o uso de armas de fogo, a tortura de cachorros, assim como suspeitas de atuação de milícias armadas. Os fatos foram oficialmente comunicados à Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e ao Ministério dos Povos Indígenas, e confirmados pela Folha com fontes envolvidas nas investigações.

Os incidentes ocorreram nos dias 23 e 24 de dezembro, na localidade do território Tekoha Guasu Guavirá, que não possui demarcação oficial e é alvo de reivindicações por parte dos guaranis da região, localizada no oeste do Paraná, próximo à fronteira com o Paraguai.

Em uma reunião realizada no dia 26, agentes da Polícia Federal declararam que, devido à escala de plantão de final de ano e outras necessidades na região, não há efetivo suficiente para garantir a segurança dos indígenas no local. Além disso, está sendo investigada a possível existência de uma milícia privada responsável pelos ataques. Diante disso, os indígenas solicitam o envio da Força Nacional pelo Ministério da Justiça para reforçar a segurança na região.

Procurada, a Polícia Federal optou por não emitir um comunicado oficial a fim de evitar possíveis prejuízos às investigações. Já a Funai não se manifestou a respeito do assunto.

Essa área já tem um histórico de violência e disputas, que envolvem não somente conflitos com fazendeiros, mas também a busca por indenização pela construção da usina de Itaipu. Em maio deste ano, uma comitiva com lideranças avá-guarani entregou uma carta à sub-secretária-geral da ONU, Alice Wairimu Nderitu, expondo a grave situação vivida pelo povo.

A situação se agravou durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro e na gestão de Marcelo Xavier à frente da Funai, que foi indiciado pela Polícia Federal por homicídio com dolo eventual do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips no Amazonas.

Segundo os guaranis, a situação se caracteriza como um “genocídio” durante todo o governo Bolsonaro, sobretudo durante a pandemia de covid-19. A região em questão enfrenta ainda a incerteza em relação à construção de uma cadeia e de uma ferrovia, bem como a contaminação da água devido ao uso de agrotóxicos em lavouras adjacentes.

Os relatos apontam severas agressões cometidas contra a comunidade indígena, incluindo tiroteios, incêndios criminosos, tortura de animais, roubos e destruição de propriedades. O clima de tensão é evidente, com a comunidade relatando casos de ameaças de “meter vala” nos indígenas e “contaminar a água” destinada às aldeias.

As autoridades ainda não têm certeza sobre a autoria dos ataques nem sobre o funcionamento da possível milícia da região, mas há indícios de possível envolvimento de fazendeiros do local. Apesar de já ter havido a delimitação do território, a demarcação ainda aguarda uma portaria declaratória.

Em 2020, o processo sofreu um revés quando a Funai, sob gestão de Marcelo Xavier, emitiu uma portaria que, na prática, anulava o trabalho previamente realizado. A portaria foi suspensa pela Funai em abril deste ano, na gestão de Joenia Wapichana, do governo Lula. A região está de fato em um estado de crise, com a população indígena em grande perigo e a necessidade urgente de ações por parte das autoridades competentes para garantir sua segurança e bem-estar.

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