O texto ressaltou a importância do incentivo ao uso de moedas locais no comércio internacional e nas transações dentro e fora do Brics. Além disso, determinou que os ministros de Finanças e/ou presidentes dos Bancos Centrais dos países membros do bloco analisem o tema e produzam um relatório a ser apresentado na próxima cúpula, que ocorrerá em 2024, na Rússia.
De acordo com informações apuradas pela Folha, a Índia não aceitou que uma linguagem mais ousada sobre desdolarização fosse adotada. Os representantes indianos afirmaram que não poderiam assumir compromissos sobre o assunto antes da conclusão de estudos por parte de sua área econômica em Nova Déli. O Brasil também tentou incluir uma menção explícita à busca por um instrumento de transações internacionais do Brics, mas foi rejeitado pelos indianos.
Essa postura da Índia frustrou os governos da Rússia e da China. Para Moscou, a desdolarização é prioridade para contornar as sanções impostas pelos Estados Unidos e aliados após a invasão da Ucrânia. Já a China deseja ter mecanismos para lidar com medidas unilaterais do Ocidente que possam ser adotadas no futuro. Por outro lado, interlocutores do governo Lula afirmam que o Brasil tem razões diferentes para buscar a criação de uma moeda de referência, destacando que a intenção não é adotar uma política antidólar como a China e a Rússia, mas sim se posicionar estrategicamente para quando o yuan, moeda chinesa, se consolidar como moeda de reserva internacional.
Durante a cúpula, Lula enfatizou a importância da criação de uma moeda de referência que permita ao Brasil fazer negócios sem depender do dólar. O ex-presidente ressaltou que não houve um fórum no mundo que decidiu que o dólar seria a moeda de referência para os negócios e que essa é uma oportunidade para criar uma moeda que facilite as transações internacionais.
Apesar do entusiasmo de Lula, há ceticismo em relação à viabilidade da proposta, tanto dentro do próprio governo quanto no Banco Central. A resistência da Índia em relação à moeda de referência não surpreendeu analistas, uma vez que o país tem adotado políticas de aproximação aos Estados Unidos e busca evitar medidas que possam ser interpretadas como antiamericanas.
A cúpula do Brics também anunciou a entrada de seis novos integrantes no bloco: Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Irã.