Repórter São Paulo – SP – Brasil

Filósofo político Antonio Negri rotula início da Guerra do Iraque como “golpe de Estado” dos EUA, em entrevista inédita à Folha

Em 2003, menos de duas semanas após o início da Guerra no Iraque, o filósofo político Antonio Negri definiu a iniciativa americana como um “golpe de Estado” devido à decisão dos EUA de irem à guerra sem o aval da ONU. Negri, que faleceu no último dia 15 aos 90 anos, concedeu uma entrevista à Folha naquele mesmo ano, onde ele afirmava que “o Iraque é um pretexto para confrontar a Europa”. Na época, o professor e pesquisador lançou o livro “Império”, escrito em parceria com Michael Hardt, que se tornou uma referência para contestar a ordem mundial do momento.

Em sua entrevista, Negri abordou questões relevantes sobre a legitimidade da ordem imperial e as consequências da guerra no Iraque. Ele afirmou que a iniciativa dos EUA foi um golpe de Estado contra as outras forças que compunham o império de forma multilateral. Segundo o filósofo, os Estados Unidos estavam se movendo fora da legitimação imperial e da sua própria Constituição, sinalizando um desafio para a ordem mundial estabelecida.

Negri também discutiu a importância da razão para o império, questionando se os Estados Unidos a teriam perdido. Ele enfatizou que o grupo no poder representa sobretudo os interesses de alguns setores poderosos, levantando questionamentos sobre a legalidade desse grupo no contexto das eleições.

Sobre a perspectiva histórica, Negri avaliou que o presidente George W. Bush seria apenas uma exceção negativa na história americana, distanciando-se da visão de um líder jacksoniano. Ele também previu que a China seria o próximo foco de atenção dos Estados Unidos, enquanto a Coreia do Norte seria um pretexto para confrontar a Europa, demonstrando uma visão estratégica das relações geopolíticas no cenário global.

Ao abordar a decadência do império americano, Negri mostrou-se prudente, sugerindo que embora haja uma possível decadência no império de Bush, ainda seria uma primavera para os EUA. Ele expressou a esperança de que a Europa e a América Latina seguissem fortes contra a vontade de Bush e que os Estados Unidos pudessem se livrar do presidente, oferecendo esperança ao mundo.

A entrevista de Negri, apesar de ter ocorrido há quase duas décadas, continua relevante para entender as dinâmicas políticas e estratégicas que influenciam as relações internacionais e a ordem mundial. O pensamento crítico e a análise profunda de Negri oferecem insights valiosos sobre questões que continuam a moldar o cenário global atual. A visão de Negri permanece como um legado intelectual significativo e uma fonte de reflexão para acadêmicos, analistas e tomadores de decisão em relação aos desafios e possibilidades do mundo contemporâneo.

Sair da versão mobile