FDA recebe requisição de novo medicamento para MDMA como tratamento de transtorno de estresse pós-traumático, com perspectiva de autorização em um ano.

A agência de fármacos americana FDA recebeu na última terça-feira (12) uma nova solicitação para o uso de MDMA (ecstasy) como tratamento para o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). A requisição foi feita pela Maps PBC, braço empresarial da Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (Maps), após uma batalha de três décadas para devolver a droga à farmacopeia psicoterápica.

O fundador da Maps, Rick Doblin, um ex-hippie inconformado com a proibição de MDMA pelo governo americano em 1985, foi o responsável por liderar a luta para a reintegração da substância. Todos os recursos obtidos pela Maps para custear os ensaios clínicos aleatorizados e controlados (RCTs) vieram de organizações privadas, pois órgãos oficiais de fomento estavam impedidos de financiar estudos com uma substância proibida.

Apesar de ser comumente referida como psicodélica, alguns especialistas preferem chamar a MDMA de “empatógeno”, por não atuar como os psicodélicos clássicos mescalina, LSD, psilocibina e DMT, que imitam o neurotransmissor serotonina. A MDMA age mais sobre a ocitocina, um neuro-hormônio que favorece a empatia.

A Maps realizou dois testes clínicos de fase 3 com MDMA para o tratamento do TEPT e obteve resultados positivos. Estima-se que o transtorno afete 13 milhões de adultos nos EUA, com um custo para a sociedade norte-americana calculado em mais de US$ 200 bilhões anuais. Entre os mais afetados estão veteranos de guerra, com cerca de 800 mil enfrentando problemas de saúde mental e uma taxa de mais de 17 suicídios por dia.

Caso a FDA considere o requerimento satisfatório, a decisão poderia sair em 6 a 10 meses, normalmente, mas o caráter inédito da terapia pode atrasar o processo. No entanto, a agência já conferiu ao protocolo da Maps PBC a condição de terapia inovadora (“breakthrough therapy”) e acompanhou o desenho dos testes clínicos, o que deve acelerar a análise.

Apesar de possíveis atrasos, é factível que a autorização para a utilização de MDMA no tratamento do TEPT saia até o fim de 2024. No entanto, é importante ressaltar que os psicodélicos ainda são terapias experimentais e não devem ser objeto de automedicação. A tendência de legalização do uso terapêutico e adulto de psicodélicos nos EUA também é um assunto em pauta, e recentemente foi abordado na revista Piauí.

Essa é mais uma etapa na longa jornada para integração de substâncias psicodélicas no campo da psicoterapia e no tratamento de transtornos psicológicos. O impacto social e terapêutico que essas substâncias podem proporcionar ainda é objeto de estudo e debate, mas a busca por alternativas eficazes no tratamento de transtornos mentais continua a todo vapor.

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