Repórter São Paulo – SP – Brasil

Exército brasileiro é o principal cliente de empresa ligada a programa de espionagem e é investigado junto com a ABIN.

Os desafios para os jornalistas são cada vez maiores diante da busca pela verdade e pelas informações apuradas e de qualidade. O cenário político brasileiro tem se revelado cada vez mais complexo, com denúncias e escândalos surgindo a todo instante. A Mídia tem desempenhado um papel fundamental na divulgação desses escândalos e na busca por esclarecimentos.

Um recente caso que chocou o país foi o envolvimento do Exército brasileiro com a empresa israelense Cognyte, proprietária do programa de espionagem FirstMile. De acordo com informações, o software não é ilegal, mas seu uso direcionado para fins político-ideológicos ou qualquer outra natureza que não seja prevista em lei é ilegal.

Ocorre que a atenção da mídia tem estado voltada somente para o esquema criminoso de Ramagem com o clã Bolsonaro e a disputa entre servidores da ABIN e da PF. Esta abordagem tem sido conveniente para os militares, desviando a atenção sobre a implicação das cúpulas militares com sistemas ilegais de espionagem de “inimigos internos”.

Assim, a mídia tem se distraído com os atores coadjuvantes e se mantido distante dos fatos relacionados ao envolvimento das cúpulas militares com o sistema de espionagem. É importante salientar que, desde o primeiro registro de pagamento à Verint/Cognyte no Portal da transparência, em 2014, o governo pagou pelo menos R$ 127,6 milhões ao grupo.

A parcela mais expressiva desse montante foi concedida ao Exército, que efetuou pagamentos no valor de 87,5 milhões de reais à empresa israelense, representando cerca de 65% do que a empresa recebeu do erário nesse período. Apesar disso, até o momento, a mídia tem focado sua atuação e investigação em relação à Abin, deixando de lado a participação ativa do Exército e demais cúpulas militares nesse esquema ilegal.

Com isso, a sociedade brasileira foi privada do acesso à verdadeira magnitude de recursos destinados à área de espionagem e vigilância. Portanto, para o esclarecimento completo de tal envolvimento, é necessário que o TCU e o Congresso Nacional apurem a discrepância de valores pagos em contratos envolvendo órgãos do governo e empresas privadas.

Por fim, a demissão do general Santos Cruz merece mais atenção. Há suspeitas de que sua exoneração, em 13 de junho de 2019, esteja associada ao conflito de interesses entre a defesa pública e os interesses pessoais. Além disso, é necessário que o escândalo de espionagem política da Abin no período Bolsonaro, assim como a participação das cúpulas militares, sejam amplamente investigados e esclarecidos perante a sociedade brasileira.

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