A iniciativa de Moffat surge diante de um cenário em que apenas 6% de toda a pesquisa mundial em ciência do esporte foi feita exclusivamente em mulheres em 2020, um número que aumentou para 8% em 2023. Além disso, a ciência esportiva tem sido tendenciosa, com a maioria dos estudos e orçamentos voltados para pesquisas sobre homens.
A disparidade de gênero na pesquisa esportiva é evidente, sendo que menos de 30% das pesquisadoras ao redor do mundo são do sexo feminino. Além disso, a complexidade das questões relacionadas ao ciclo hormonal diário, menstrual e ao uso de anticoncepcionais pelas mulheres torna o estudo e a pesquisa mais desafiadores.
A importância de focar em estudos específicos para as mulheres é evidente em temas como performance esportiva, lesões e tratamentos. Um estudo publicado este ano mostrou diferenças entre corredores de ultramaratona masculinos e femininos, enquanto outros estudos apontam para a necessidade de mais pesquisas sobre lesões no esporte feminino.
Baz Moffat enfatiza que é essencial que a ciência do esporte preste atenção à saúde das mulheres e forneça orientações específicas, principalmente no que diz respeito aos treinos e tratamentos de lesões. Ela acredita que a atitude em relação à disparidade de gênero na pesquisa esportiva precisa mudar para acompanhar as extraordinárias conquistas das mulheres no mundo esportivo.
A falta de educação sobre o próprio corpo também é uma preocupação, com muitas mulheres desconhecendo informações importantes sobre exercícios específicos, gerenciamento de sintomas no ciclo menstrual e na menopausa, ou até mesmo sobre saúde sexual. Moffat ressalta a importância de abrir o diálogo sobre esses temas desde cedo, inclusive nas escolas, para que as mulheres se sintam confortáveis e informadas sobre suas próprias necessidades de saúde.
Diante desse cenário, fica evidente a necessidade de uma mudança de paradigma na pesquisa e na abordagem dos temas relacionados à saúde feminina no esporte. Baz Moffat e outras pesquisadoras e profissionais do esporte estão liderando esse movimento, buscando trazer maior atenção e representatividade para as questões exclusivas das mulheres no mundo esportivo. A iniciativa do The Well-HQ e a publicação do livro “The Female Body Bible” são passos importantes para esse avanço.