De acordo com Suzany González, não existe algo chamado “ideologia de gênero”. O que realmente existe são estudos científicos, antropológicos, filosóficos e sociológicos, inclusive biológicos, que demonstram as desigualdades de gênero independentemente das diferenças biológicas. Portanto, a EIS tem como objetivo discutir e combater essas desigualdades.
No entanto, as exigências dos grupos conservadores vão além da erradicação da EIS nas escolas. Eles também defendem a substituição do atual currículo por um programa chamado “Aprendendo a Querer”, que é composto por uma série de livros voltados para crianças em idade pré-escolar até adolescentes de 17 anos. Essa iniciativa, que surgiu em 1999, é apoiada por diversas organizações cristãs e ultraconservadoras, como a Provive, que atua na área de educação e proteção à criança e ao adolescente.
A Provive é presidida por Christine de Vollmer, que também é autora dos livros da coleção “Aprendendo a Querer”. Vale ressaltar que a ativista é casada com Alberto Vollmer, dono de uma empresa de bebidas alcoólicas e do Banco Mercantil, uma das entidades financeiras privadas mais poderosas do país. Para González, é contraditório que uma pessoa que supostamente protege os direitos das crianças tenha um envolvimento econômico tão questionável.
Suzany González argumenta que existem diversos interesses econômicos e políticos por trás da atuação desses grupos conservadores contra a EIS nas escolas. Isso explicaria o impulso recente que esses grupos ganharam na Venezuela, principalmente em um período eleitoral, uma vez que o país realizará eleições presidenciais no próximo ano.
Além disso, setores evangélicos têm se mobilizado contra um projeto de lei contra a discriminação em tramitação no Parlamento venezuelano, alegando que o mesmo ataca “o modelo original da família”. Mercedes Muñoz, pesquisadora da área, afirma que é necessário proteger os direitos básicos e fundamentais das crianças e dos adolescentes, garantidos pela lei e pela Constituição.
É importante destacar que a Venezuela possui a maior taxa de fecundidade adolescente da América Latina, o que torna a implementação da EIS e o enfrentamento aos grupos conservadores ainda mais urgentes. Segundo dados da ONU, são 96 nascidos vivos a cada 1.000 mulheres entre 15 e 19 anos. Pesquisadoras argumentam que a proibição do aborto no país e as dificuldades em se obter métodos contraceptivos, causadas pela crise e pelo bloqueio econômico imposto pelos EUA, ampliam a necessidade de abordar a educação sexual e combater esses grupos conservadores visando uma sociedade mais justa.
Para concluir, fica evidente que a discussão em torno da Educação Integral da Sexualidade na Venezuela envolve diferentes perspectivas, mas é fundamental garantir o respeito aos direitos e à proteção das crianças e dos adolescentes, conforme previsto na Constituição e na lei. Além disso, é preciso estabelecer um diálogo público que promova a educação sexual de forma ampla e baseada em evidências científicas, buscando reduzir as desigualdades de gênero e melhorar as condições de vida dos jovens venezuelanos.