Repórter São Paulo – SP – Brasil

Estudo revela equilíbrio natural nas trocas gasosas entre atmosfera e oceano Atlântico Sul mesmo em cenário de mudanças climáticas abruptas.

Um estudo recente, financiado pela Fapesp, revelou importantes descobertas sobre as trocas gasosas entre a atmosfera e o oceano Atlântico Sul no passado geológico recente. Os resultados indicaram um marcante equilíbrio natural nessas trocas de dióxido de carbono (CO2), mesmo diante de mudanças climáticas abruptas. As trocas gasosas entre a atmosfera e os oceanos desempenham papel fundamental na regulação do clima e na manutenção do equilíbrio ecológico do planeta, sendo que estima-se que os oceanos absorvam cerca de um terço do CO2 emitido pela humanidade.

Durante o estudo, foram investigados períodos do passado em que o clima global sofreu mudanças abruptas devido à redução da intensidade da Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês), conhecidos como Heinrich Stadials (HS). Essas mudanças afetam o transporte de calor do Atlântico Sul para o Atlântico Norte, resultando em resfriamento no Norte e acúmulo de calor no Sul.

Uma importante consequência desse aquecimento da porção meridional do Atlântico foi o aumento da ressurgência marinha no oceano Austral, que liberou uma grande quantidade de CO2 armazenado no fundo oceânico para a atmosfera. Esse CO2 do oceano profundo possui uma “impressão digital” que pode ser distinguida do CO2 de outras fontes.

O estudo se baseou em análises de microconchas de foraminíferos planctônicos preservadas em testemunhos sedimentares marinhos coletados no Brasil e na África do Sul. Por meio dessas análises, foi possível reconstituir e compreender as trocas gasosas que ocorreram durante os eventos HS.

Os pesquisadores utilizaram a composição dos isótopos estáveis do carbono presentes nas microconchas para identificar a presença de CO2 oriundo do oceano profundo na atmosfera durante os eventos HS. Os resultados indicaram um aumento do CO2 atmosférico durante esses eventos, detectado pelo excesso do isótopo carbono 12.

Atualmente, existe uma crescente preocupação quanto ao enfraquecimento, ou até mesmo colapso, da AMOC até o final deste século. Isso poderá causar um aquecimento adicional no Atlântico Sul e afetar o clima global. A compreensão das trocas gasosas entre a atmosfera e os oceanos no passado geológico contribui para um melhor entendimento das mudanças climáticas em curso.

O estudo foi financiado pela Fapesp e conduzido no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGC-USP). O orientador da pesquisa, Cristiano Chiessi, ressaltou que além das descobertas alcançadas, o estudo também contou com um notável esforço laboratorial, com mais de 940 análises realizadas.

As informações obtidas por meio desse estudo podem auxiliar na monitorização do desacoplamento entre a atmosfera e o oceano, dois importantes reservatórios de carbono. A composição isotópica do carbono pode fornecer pistas relevantes sobre o ciclo do carbono e contribuir para a compreensão das mudanças climáticas atuais.

O estudo foi realizado no âmbito dos programas de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (Biota) e de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e teve seu artigo publicado na revista Global and Planetary Change.

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